postado em 18/05/2008 08:53
Cannes ; "Não podemos romantizar a realidade social brasileira", disse Walter Salles logo após a primeira exibição de Linha de passe no Festival de Cannes, na França. O filme, dirigido em parceria com Daniela Thomas, realmente não suaviza as dificuldades que o jovem da periferia enfrenta para se afirmar como homem e profissional. Mas, diferentemente de grande parte da atual safra cinematográfica nacional que explora esse tema, o caminho da violência foi preterido. "Não queríamos fazer um filme sobre subúrbio com traficantes e polícia, mas era impossível estar nesse contexto sem que a violência não estivesse um pouco à margem da história. Os personagens estão próximos da violência, mas recusam esse caminho. É um filme sobre pessoas que conseguem se salvar", conta. Linha de passe se concentra na rotina de quatro irmãos criados pela mãe, solteira e grávida, e as respectivas tentativas de realização: Dario quer ser jogador de futebol; Dinho se dedica à igreja evangélica; Dênis é motoboy; e Reginaldo, o caçula, passeia de garagem em garagem de ônibus na tentativa de encontrar o pai desconhecido. As histórias são entrelaçadas, cada uma com um peso dramático específico. Uma das mais interessantes é a do mais novo, inspirada em fato real.
Aplaudido depois da primeira exibição, o filme teve apenas uma recepção padrão, ou seja, alguns críticos se empolgaram, outros acharam que se arrasta um pouco. Por encontrar semelhanças entre o trabalho da dupla brasileira e o clássico Rocco e seus irmãos, de Luchino Visconti, a imprensa italiana marcou presença forte na entrevista com os diretores e do elenco. Walter Salles ressaltou a admiração pelo realismo do cinema italiano, mas destacou que o brasileiro já segue caminhos próprios.
Woody Allen
Especialista em dividir a crítica, o diretor Woody Allen não fez diferente na 61; edição do Festival de Cannes. Vicky Cristina Barcelona foi exibido fora de competição e, após os créditos finais, palmas e vaias se misturaram. Os aplausos se sobressaíram, é verdade. Rodado no verão passado na cidade espanhola, a comédia trata a terra de Gaudí como mais uma personagem dessa história sobre duas americanas, Vicky (Rebecca Hall) e Cristina (Scarlett Johansson), que desembarcam na Europa para dois meses de férias na Catalunha.
Desacompanhada do namorado, o ator Javier Bardem, Penélope Cruz esteve com Rebecca e Woody em Cannes. Ele, demonstrando sinais de surdez, contou que escolheu Barcelona para as locações simplesmente porque recebeu uma ligação de autoridades da cidade oferecendo financiamento caso ele se interessasse em gravar na cidade. "Adoro a Espanha, amo Barcelona. Minha mulher queria conhecer aquela região e eu pensei que seria interessante passar o verão lá. Assim, escrevi uma história que poderia fazer em Barcelona", confessou, completando que aceitaria o convite de qualquer outra cidade do mundo.
Como norte-americano, Woody não escapou do olhar turístico, mas conseguiu ir além das obras de Gaudí ou Miró, captou o clima de liberdade sexual também existente na cidade. No filme, Penélope, Javier e Scarlett mantêm um rápido relacionamento a três, algo que, segundo o diretor, é mais fácil na ficção. "Os personagens neste filme têm química e conseguem levar essa situação. Na vida real é mais complicado. São várias ramificações emocionais", reconhece.
Tyson
O documentário dirigido por James Toback sobre Mike Tyson despertou bons comentários nos corredores do Palais du Festival. O filme desnuda o boxeador, que reafirmou, durante a entrevista coletiva, que não quer vê-lo: "Me senti vulnerável". Na sessão de abertura, Tyson participou das solenidades, mas, antes do início da projeção, se retirou da sala, voltando apenas para os aplausos finais. A verdade é que o homem que já foi temido por muitos tem o ar mais frágil do que o esperado, revestido de timidez.