postado em 20/05/2008 19:55
Buenos Aires - O governo da presidente Cristina Kirchner deverá receber entre quarta (21/05) e quinta-feira (22/05) as lideranças das quatro maiores associações de produtores agropecuários do país - a Sociedade Rural, Federação Agrária, as Confederações Rurais Argentinas (CRA) e a Confederação Intercooperativa Agropecuária (Coninagro) - para retomar o diálogo. Os ruralistas, que deverão suspender na madrugada da quarta (21/05) o locaute que realizam contra o governo desde o dia 8 de maio, exigem que a presidente Cristina retroceda em uma série de polêmicas medidas tributárias que decretou no início de março.Entre as medidas rejeitadas pelos agricultores estão os aumentos dos impostos sobre as exportações agropecuárias, o sistema de impostos móveis (que permite ao governo ficar com a maior fatia dos lucros de commodities quando os preços internacionais sobem) e as restrições que a administração Cristina aplica às vendas de carne bovina e trigo para o exterior.
Informações extra-oficiais indicam que os ruralistas seriam recebidos pelo Ministro da Economia, Carlos Fernández, e o Chefe do Gabinete de Ministros, Alberto Fernández. As discussões prometem ser duras, já que o governo rejeita a idéia de eliminar totalmente os aumentos tributários. Uma alternativa de consenso, afirmam os rumores, seria o de reduzir os aumentos.
O presidente da Federação Agrária, Eduardo Buzzi, afirmou que "existem condições" para a retomada das negociações nesta semana com o governo.
Em referência à trégua concedida ao governo, Buzzi disse que os ruralistas "criaram o cenário para dialogar". O líder ruralista sustentou que, nas discussões com os assessores de Cristina, será necessário tratar dos impostos sobre as exportações, assunto que definiu como "crucial".
Enquanto esperam o encontro com os representantes do governo, as lideranças ruralistas preparam uma demonstração de força para domingo (25/05), uma das duas datas nacionais da Argentina. O plano é realizar uma "mega manifestação" com mais de 70 mil pessoas na cidade de Rosario, o principal porto de escoamento de cereais do país. A manifestação consistiria, segundo os analistas, em um "ás na manga" por parte dos ruralistas nas negociações com o governo.
Na noite de hoje (20/05), grupos de produtores agrícolas que não haviam concordado com a decisão de suspender o locaute - e que prometiam continuar com os protestos - anunciaram que também participariam da trégua concedida ao governo. Desta forma, os setores mais radicalizados indicaram que esperariam até o fim de semana para ver o surgimento de avanços nas negociações com a presidente Cristina.
Com a adesão total à trégua, os setores rebeldes suspenderam o piquete que realizavam na área da cidade de Gualeguaychú, ao lado da Estrada Nacional Número 14, mais conhecida como a "Rodovia do Mercosul". Por ali passa a maior parte do trânsito de mercadorias entre o Brasil e a Argentina.