postado em 22/05/2008 10:41
YANGUN - O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, considerou nesta quinta-feira (22/05) que a junta militar birmanesa mostrou certa flexibilidade frente aos apelos para deixar entrar a ajuda humanitária, depois de sobrevoar a região do delta do Irrawaddy devastada pelo ciclone Nargis, e no primeiro dia de uma viagem a Mianmar que tem como objetivo convencer a junta a aceitar a realização de uma grande operação de ajuda internacional.
"Os generais birmaneses mostraram recentemente alguns sinais de flexibilidade", declarou Ban ki-moon a jornalistas ao término de sua expedição de helicóptero no delta do Irrawaddy, que durou quase três horas. Ban Ki-moon voltou a Yangun no fim do dia, segundo um representante da ONU. O secretário-geral também visitou dois campos de sobreviventes do suoeste birmanês, arrasado pela catástrofe de 2 e 3 de maio que deixou pelo menos 133.000 mortos e desaparecidos.
Ban Ki-moon fez uma viagem excepcional à antiga Birmânia para persuadir o regime militar a abrir suas portas à ajuda humanitária, aliviando asim os 2,4 milhões de desabrigados. "As Nações Unidas e toda a comunidade internacional estão prontas para ajudá-los a superar essa tragédia", declarou Ban Ki-moon ao homenagear as vítimas no santuário budista de Shwedagon, em Yangun.
"Esta é a razão da minha presença aqui", ressaltou, insistindo em sua "solidariedade" após uma das catástrofes naturais mais mortíferas das últimas décadas. "Estou confiante de que conseguiremos superar essa tragédia mas, ao mesmo tempo, espero que a população e o governo poderão coordenar os fluxos de ajuda para que esta assistência possa ser encaminhada de forma mais sistemática e organizada", discursou o secretário-geral da ONU.
Ban Ki-moon, que desembarcou na manhã desta quinta-feira em Yangun em procedência de Bangcoc, conversou durante apenas 20 minutos com o primeiro-ministro birmanês, o general Thein Sein. O diplomata sul-coreano disse a seu interlocutor que a magnitude do ciclone Nargis e a subseqüente crise humanitária superam as capacidades de Mianmar, e que a ajuda estrangeira é indispensável.
O chefe da ONU expressou sua frustração com "a incapacidade dos trabalhadores humanitários de levar a ajuda a tempo às zonas devastadas". Os dois homens devem se encontrar novamente nesta quinta-feira por ocasião de um jantar. Ban Ki-moon deve se reunir sexta-feira com o número um da junta militar, o general Than Shwe, na nova capital administrativa de Naypyidaw, perdida no centro deste país pobre e isolado de 57 milhões de habitantes.
Trata-se da primeira visita de um secretário-geral da ONU em Mianmar desde 1964. No entanto, nesta quinta-feira, os meios de comunicação locais nem mencionaram a preesença de Ban ki-moon no país. A televisão estatal e o jornal governamental New Light of Myanmar continuaram afirmando que os sobreviventes do ciclone estão recebendo ajuda.
"A ajuda fornecida pelos doadores locais e do exterior está sendo distribuída de forma sistemática às vítimas nas áreas afetadas", sustentou o New Light of Myanmar. Entretanto, fotógrafos e jornalistas no sudoeste birmanês continuam vendo pessoas desesperadas aguardando alimentos, água potável e cuidados médicos.
"As vítimas não devem acreditar nas informações fabricadas por elementos destrutivos em Mianmar e no exterior", acrescentou o jornal. Ban Ki-moon deve ficar em Mianmar até a noite de sexta-feira, antes de retornar à Tailândia para participar de reuniões no sábado. Ele voltará a Yangun domingo para assistir a uma conferência internaacional para arrecadar fundos organizada pela ONU e pela Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), que deve coordenar a ajuda internacional.
Graças à autorização da junta militar, o primeiro dos 10 helicópteros do Programa Alimentar Mundial (PAM) das Nações Unidas chegou a Mianmar nesta quinta-feira para ajudar aldeões isolados, comemorou a ONU em Bangcoc. Ao contrário, a junta ainda não permitiu o descarregamento de 1.000 toneladas de ajuda humanitária transportada por quatro navios americanos e um navio francês.