postado em 22/05/2008 12:11
JOANNESBURGO - O Exército estava mobilizado nesta quinta-feira (22/05) na região de Joannesburgo para conter a onda de violência xenófoba que deixou até agora mais de 40 mortos, lembrando aos sul-africanos os dias sombrios do apartheid. Militares e policiais tomaram o controle dos bairros pobres da província de Gauteng, onde fica Joannesburgo, e "trabalharão em coordenação até que a calma seja restaurada", segundo comunicado.
Enquanto o Exército estava em alerta, policiais de elite permaneciam mobilizados nos "townships" (favelas) arrasados há cerca de 10 dias por bandos armados com machetes e armas de fogo que atacam estrangeiros e incendeiam suas casas. Desde terça-feira, a onda de violência se estendeu para fora de Joannesburgo, fazendo temer uma propagação por todo o país.
Nesta quinta-feira, a situação parecia mais calma nas favelas de Gauteng, mas a polícia registrou pela primeira vez ataques na província de North West. "Tivemos incidentes na noite passada no township de Ukasie, em Brits. As lojas de três estrangeiros foram atacadas e saqueadas", declarou nesta quinta-feira o delegado Peter du Plessis, da polícia de North West, destacando que 49 pessoas foram detidas.
Outros tumultos foram registrados na província de Mpumalanga (leste) na noite de quarta-feira. "Dois ônibus foram incendiados e um moçambicano foi baleado. Ele está hospitalizado neste momento", informou uma porta-voz da polícia, Sibongile Nkosi. A onda de violência, que começou em 11 de maio na favela de Alexandra em Joannesburgo, deixou pelo menos 42 mortos segundo a polícia, que afirmou ter detido 517 pessoas.
Mais de 16.000 pessoas fugiram. Centenas de estrangeiros se refugiaram em delegacias e igrejas, onde associações estão mobilizadas para ajudá-los. Muitos sul-africanos acusam os estrangeiros, entre os quais cerca de três milhões de zimbabuanos exilados pela crise em seu país, de serem os principais responsáveis pela explosão do desemprego, da pobreza e da criminalidade.
O chefe da oposição zimbabuana, Morgan Tsvangirai, foi nesta quinta-feira a Alexandra, onde foi recebido como um herói por seus compatriotas. "Se tudo estivesse bem no nosso país, não precisaríamos estar aqui. Espero que conseguiremos resolver nossa própria crise", declarou. A onda de violência tem um impacto importante sobre a economia, principalmente nas minas de ouro, que empregam muitos estrangeiros.
"No total, 14% dos trabalhadores estiveram ausentes segunda-feira, 60% quarta-feira e 58% hoje (quinta-feira)", declarou à AFP James Duncan, porta-voz da companhia DRD Gold, destacando que os funcionários presentes "estão traumatizados e preocupados com suas famílias". A imagem da "Nação Arco-Íris" idealizada pelo herói da luta contra o apartheid e ex-presidente sul-africano Nelson Mandela foi bastante abalada pela explosão da violência contra os estrangeiros.
Mais de 3 mil moçambicanos já retornaram a seu país. "Estamos prontos para ajudar os que desejam voltar", afirmou nesta quinta-feira o presidente do Moçambique, Armando Guebuza. Segundo Kgalema Motlanthe, secretário-geral do Congresso Nacional Africano (ANC), o partido no poder na África do Sul, a miséria explica a violência.
"Quando muitas pessoas vivem em condições sórdidas, basta um incidente para que tudo exploda", declarou, denunciando a reação tardia das autoridades "que incentivou outras pessoas vivendo em condioções semelhantes a perpetrarem ataques idênticos". Motlanthe admitiu que os sul-africanos, "que não tiveram acesso à educação" por causa das injustiças que vigoravam na época do apartheid, que acabou em 1994, têm inveja dos estrangeiros, sobretudo dos zimbabuanos mais qualificados.