postado em 24/05/2008 14:45
Mais de 25 mil imigrantes fugiram da onda de violência xenófoba que estourou nos bairros periféricos da África do Sul, e agora recorrem a abrigos provisórios para sobreviver apesar das condições sanitárias precárias e da escassez de alimentos.
"A Cruz Vermelha ajuda atualmente mais de 25.000 deslocados, distribuídos em 21 centros, principalmente em Johanesburgo", capital econômica do país, onde os ataques a imigrantes começaram no dia 11 de maio, explicou à AFP Françoise Le Goff, diretora da entidade na África do Sul.
"A situação se deteriorou desde que os atos violentos se estenderam a Durban e à Cidade do Cabo" nos últimos dias, continuou.
A violência que assolou os bairros miseráveis de Johanesburgo e se propagou a Durban (leste), grande porto sul-africano no Oceano Índico, e à Cidade do Cabo (sudoeste), centro turístico e sede do Parlamento, já contagiou sete das nove províncias do país.
Pelo menos 42 pessoas morreram e centenas ficaram feridas, enquanto milhares de estrangeiros já optaram por tomar o caminho de volta para casa. A polícia já prendeu mais de 500 pessoas.
Embora o número de incidentes tenha diminuído, graças à ação abrangente da policía e do Exército, os deslocados continuam chegando aos acampamentos improvisados, freqüentemente montados em locais próximos às delegacias.
"Registramos menos casos de feridos vítimas da violência, mas cada vez mais casos de doenças conseqüentes do frio e das más condições sanitárias", principalmente infecções respiratórias e diarréias, disse à AFP a diretora da organização Médicos Sem Fronteiras na África do Sul, Muriel Cornelius.
A madrugada de sábado transcorreu em relativa calma em Johanesburgo, onde o Exército permanecia mobilizado. Um homem morreu vítima de disparos feitos pelos militares em um subúrbio mineiro na parte leste da cidade.
"Infelizmente tivemos um incidente no qual um membro da população recebeu disparos quando apontava uma arma contra um soldado", informou à AFP o porta-voz do Exército sul-africano, general Kwena Mangope.
A decisão de usar tropas para conter a violência, tomada pelo governo na quinta-feira, não acontecia desde o fim do Apartheid, em 1994, quando, paradoxalmente, o regime segregacionista recorria ao Exército para sufocar os protestos dos negros.
A polícia e o Ministério Público anunciaram na sexta-feira medidas excepcionais para combater "rápida e severamente" os casos de violência, e estudam a criação de tribunais especiais.
A organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) fez um apelo ao governo sul-africano para que "proteja as vítimas e garanta a justiça", assegurando que os imigrantes, muitos deles ilegais, possam depor.
Os estrangeiros - entre os quais se destacam cerca de três milhões de zimbabuanos - são acusados de tirar os empregos dos nativos e de contribuir para o aumento da criminalidade, em um país onde o desemprego e a pobreza extrema afetam 40% da população.