Mundo

ONU e ONGs apostam em promessa de Mianmar de aceitar ajuda humanitária

;

postado em 26/05/2008 09:51
YANGUN - As Nações Unidas e as ONGs ocidentais se apegavam nesta segunda-feira (26/05) a uma tímida promessa da junta birmanesa de permitir a entrada de voluntários estrangeiros para fornecer ajuda humanitária às vítimas do ciclone Nargis que há mais de três semanas devastou o sul do país. "Minha esperança é de que (os generais birmaneses) cumpram seu compromisso. É o que queremos ver", disse com otimismo o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, antes de viajar de Bangcoc para Nova York na noite de domingo para segunda-feira. Durante uma viagem a Mianmar, Ban conseguiu chegar a um acordo na sexta-feira passada com o número um da junta, o generalíssimo Than Shwe, para abrir o país a "todos" os trabalhadores humanitários internacionais. Ban e os países ocidentais também tentaram pressionar o regime militar a fornecer ajuda aos 2,4 milhões de afetados pelo Nargis, em uma conferência realizada domingo em Yangun. A junta prometeu na ocasião dezenas de milhões de dólares para a reconstrução. Mianmar avalia em mais de 10 bilhões de dólares os danos causados por uma das piores catástrofes naturais da história recente, que deixou pelo menos 133.600 mortos e desaparecidos entre os dias 2 e 3 de maio no sul do país. Ban Ki-moon elogiou um "novo espírito de cooperação" e um clima de "confiança", mas reconheceu que ainda há divergências com o regime militar birmanês, historicamente reticente aos países ocidentais e preocupado em defender sua soberania. A ONU considera que mais de três semanas depois da tragédia o país "ainda está claramente em fase de urgência", apesar de a junta ter falado em reconstrução. "O importante é que o generalíssimo Than Shwe e eu temos um acordo", embora "não creia que estejamos de acordo em tudo", declarou Ban Ki-moon. Apesar da crise humanitária, a junta manteve no sábado passado nas regiões atingidas o segundo turno de um referendo sobre uma nova Constituição, e nesta segunda-feira anunciou sua vitória com a aprovação do projeto por 92,93% dos votos e uma participação de 93% nas regiões de Yangun e no Delta do Irrawaddy. Segundo a junta, a nova Constituição, redigida sob sua tutela, abrirá caminho para eleições multipartidárias em 2010. A Liga Nacional pela Democracia (LND), da Prêmio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, denunciou que o texto fortalece o poder dos militares e criticou o regime por realizar o referendo em vez de se centrar na ajudar à população após a passagem do ciclone. O primeiro-ministro birmanês Thein Sein, sem contradizer as promessas do chefe da junta Than Shwe, foi mais prudente em suas declarações sobre a ajuda humanitária internacional. Mianmar "examinará (caso a caso) a possibilidade" de permitir o acesso aos voluntários "que desejarem ajudar nos trabalhos de reconstrução e reabilitação, em função de nossas prioridades", afirmou. A França desistiu de descarregar em Mianmar um navio que transportava mil toneladas de ajuda. O navio da Marinha francesa, "Le Mistral", se dirigiu ao porto tailandês de Phuket, e entregará seu carregamento ao Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação