postado em 26/05/2008 10:58
JOHANNESBURGO - O presidente sul-africano, Thabo Mbeki, foi alvo de críticas nesta segunda-feira (26/05) por sua reação tardia à onda de violência xenófoba que deixou pelo menos 50 mortos no país. Mbeki condenou no domingo os ataques contra os imigrantes em pronunciamento à nação.
O presidente alertou para o retorno a um passado de violência caracterizado pela luta contra o apartheid e afirmou que as agressões xenófobas comprometeram a imagem da África do Sul e mancharam a reputação de heróis da libertação como o Prêmio Nobel da Paz e ex-presidente Nelson Mandela. "Nunca, desde o nascimento de nossa democracia, havíamos sido testemunhas de semelhante barbárie. Devemos considerar os acontecimentos das últimas duas semanas uma vergonha absoluta", afirmou durante um discurso transmitido em cadeia de rádio e TV públicas.
O presidente sul-africano já havia condenado a violência anteriormente e anunciado a criação de um comitê para analisar o problema, mas o fato de não ter se dirigido à nação até domingo abriu espaço para críticas. "Foi um grande discurso, porém tardio", declarou Sipho Seepe, analista do Instituto Sul-Africano das Relações Raciais, à radio pública SABC. "O desafio não consiste em condenar a violência. Consiste em tomar medidas imediatamente quando começa o tumulto no país", acrescentou.
Um jornal sul-africano, o Sunday Times, publicou em primeira página um apelo para que Mbeki deixe o poder, em um artigo que dava destaque ao fato de o presidente ainda não ter visitado as áreas do país afetadas pela violência. Enquanto milhares de imigrantes ; principalmente zimbabuanos e moçambicanos ; tentavam retornar para seus países, a África do Sul enfrentava uma crise humanitária protagonizada pelos estrangeiros que fugiram em massa de seus abrigos para se refugiar em delegacias, centros comunitários e igrejas.
Quase 35 mil pessoas se deslocaram para o interior da África do Sul e outras milhares fugiram do país. As autoridades de Moçambique afirmaram que 26 mil imigrantes regressaram desde o início da violência xenófoba. A população sul-africana se queixa de que os imigrantes representam uma fonte de mão-de-obra barata e os responsabilizam pela criminalidade. Em uma tentativa de acalmar os ânimos, o governo mobilizou seus principais integrantes. "A violência não solucionará nossos problemas, só os agravará", afirmou Jacob Zuma, líder do Congresso Nacional Africano (ANC, partido no governo), diante de uma multidão enfurecida em Springs, ao leste de Johannesburgo.