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Partido opositor classifica referendo em Mianmar de hipócrita

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postado em 27/05/2008 10:19
YANGUN - O partido da líder opositora birmanesa Aung San Suu Kyi classificou nesta terça-feira (27/05) de hipocrisia o referendo constitucional organizado pela junta militar, enquanto os voluntários estrangeiros tentavam obter permissões de acesso ao devastado Delta do Irrawaddy (sudoeste). A junta militar anunciou a prorrogação da prisão domiciliar de Suu Kyi, depois de deter 15 de seus partidários. A junta examina a cada ano no final de maio o caso da prisão domiciliar de Suu Kyi, mas nesta terça-feira ainda não se sabia o período da nova prorrogação. Suu Kyi, de 62 anos, que dirige a Liga Nacional pela Democracia (LND), foi mantida prisioneira a maior parte dos últimos 18 anos. Cem policiais uniformizados e à paisana, ao lado de milicianos partidários da junta, vigiavam os arredores da casa da líder opositora e Prêmio Nobel da Paz em Yangun. Trinta membros da LND tentaram realizar uma passeata do quartel-general do partido até a casa de Suu Kyi, mas as forças de segurança dispersaram a marcha e prenderam alguns participantes, segundo testemunhas e membros do partido. "No total, 15 foram presos", declarou o porta-voz da LND, Nyan Win. A operação policial foi realizada no momento em que a LND realizava uma cerimônia para lembrar o aniversário de sua vitória nas eleições de 1990, que foi ignorada pela junta militar. Os generais no poder mantiveram Suu Kyi presa e elaboraram seu próprio "mapa do caminho para a democracia", que neste mês deu lugar a um referendo sobre uma Constituição que segundo os militantes pró-democracia reforça o controle militar do país. A votação aconteceu nos dias 10 e 24 de maio, apesar da passagem do devastador ciclone Nargis que na noite de 2 para 3 de maio deixou 133.600 mortos e desaparecidos, segundo o último balanço. O regime informou na segunda-feira que mesmo com a catástrofe, 98% dos eleitores votaram e mais de 92% aprovaram seu projeto de Constituição. A LND indicou nesta terça-feira que o referendo não foi "livre nem justo", e que por este motivo não pode "aceitar" a "hipocrisia". "As autoridades utilizaram coerção, intimidação, mentiras, tergiversação e utilizaram uma influência indevida, abusando de seu poder para obter votos afirmativos. Portanto, o resultado não é o verdadeiro julgamento do povo", acrescenta a LND em um comunicado. O partido denunciou também "a obstinação" dos generais em organizar a consulta após a passagem do Nargis, que segundo a ONU deixou 2,4 milhões de desabrigados, enquanto organizações humanitárias estrangeiras tentavam obter permissão para ter acesso ao devastado Delta do Irrawaddy (sudoeste). Uma porta-voz das Nações Unidas em Genebra declarou nesta terça-feira que um milhão de birmaneses receberam ajuda internacional. "Estamos em um bom caminho", declarou a porta-voz do Agência de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU, Elisabeth Byrs, ao informar que a ajuda internacional chegou a 42% dos sobreviventes. Byrs ressaltou que a ajuda internacional fornecida pela ONU e pelas associações estrangeiras chegou principalmente aos desabrigados da região de Yangun. Nos 15 distritos mais atingidos pelo ciclone, a ajuda internacional chegou a apenas a 23% dos desabrigados.

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