postado em 27/05/2008 16:27
JOHANESBURGO - Dezenas de milhares de imigrantes africanos, aterrorizados pela onda de violência xenófoba que deixou 56 mortos na África do Sul, ainda permanecem refugiados em acampamentos improvisados, apesar do governo garantir que a situação está "sob controle".
Entretanto, um atentado com explosivos em uma loja chinesa na província de Eastern Cape, onde até agora nenhum ataque havia sido registrado, levanta dúvidas sobre as afirmações do governo.
Os ataques que começaram no dia 11 de maio deixaram 56 mortos e centenas de feridos nos subúrbios e favelas de Johanesburgo. Cerca de 350 lojas pertencentes a estrangeiros foram saqueadas e outras 213 foram incendiadas, segundo dados do governo.
Volta aos países de origem
Dezenas de milhares de estrangeiros, a maioria oriunda do Zimbábue e de Moçambique, se refugiaram em delegaciais e centros de assistência social, enquanto milhares preferiram retornar a seus países de origem.
Nomfundo Mogapi, diretor do programa do Centro de Estudos sobre a Violência e a Reconciliação (CERV), estima que mais de 100.000 pessoas já deixaram a África do Sul por causa da violência.
"Segundo os diferentes relatórios que possuímos, há entre 80.000 e 100.000 pessoas que fugiram para seus países de origem", afirmou Mogapi. Outras 20.000 fugiram da turística Cidade do Cabo (sudoeste) e 20.000 da cidade portuária de Durban (leste), concluiu.
Abrigos
Nos abrigos provisórios, as condições sanitárias são cada vez mais precárias, e os refugiados sofrem com as baixas temperaturas noturnas, que chegam a zero grau.
O presidente sul-africano, Thabo Mbeki, viajou na segunda-feira (26/05) a Tóquio para participar da conferência "Em direção a uma África dinâmica: um continente de esperança e oportunidade".
"O presidente deveria estar em casa, deveria estar aqui, e colocar mãos à obra", disse à AFP Helen Zille, chefe da Aliança Democrática (AD), principal partido de oposição do país.
"Mbeki tem que assumir suas responsabilidades", concorda Bantu Holomisa, presidente do pequeno Movimento Unido Democrático (MUD). "A nação está em seu direito de dizer que quer escutar o chefe de Estado", afirmou.
Mbeki, que se manteve discreto desde o início da onda de violência, contentou-se em fazer um discurso no domingo passado, transmitido pela televisão e pelo rádio, no qual condena os "atos vergonhosos" que "mancharam o nome do país".
"Muito pouco e muito tarde", era a manchete desta terça-feira (27/05) do jornal The Citizen, referindo-se à atitude de Mbeki. O popular The Sowetan, por sua vez, destacou o contraste entre as reações de cidadãos e dirigentes sul-africanos: "Os cidadãos impressionados foram às ruas expressar seu descontentamento e oferecer ajuda. Mas onde estão os líderes?", questiona.
Mais medo
No entanto, nem todos os cidadãos se mostram solidários aos imigrantes. Nomfundo Mogapi afirma que os estrangeiros ainda não querem voltar para suas casas porque "têm medo" de seus vizinhos.
"Mais do que aceitá-los, temos que preparar as comunidades para acolhê-los", disse, insistindo na importância de entender os motivos dos ataques.
A África do Sul é a primeira potência econômica do continente e mantém suas fronteiras relativamente abertas. Mas a economia tem duas velocidades, e mais de 40% da população sofre com a pobreza e o desemprego.
Nos bairros pobres, os sul-africanos acusam os imigrantes de roubar seus empregos e de colaborar para o aumento da criminalidade.