postado em 28/05/2008 07:57
Brasileiro integra missão a Marte
Construir um aparelho que seja capaz de fazer uma viagem de 10 meses, passar por temperaturas altíssimas, perfurar um solo desconhecido e depois processar e analisar materiais nunca antes testados. A Nasa, agência espacial dos Estados Unidos, sabe como. E o brasileiro Ramon de Paula, de 55 anos, também. Nascido em Guaratinguetá (SP), o cientista mudou-se para os EUA com a família quando era adolescente. Resolveu ficar por lá para terminar os estudos e ir mais longe. Fez mestrado, doutorado, trabalhou em laboratórios respeitados até chegar à Nasa. Sua mais recente tarefa: coordenar, como programador executivo, a missão da sonda Phoenix, que pousou em Marte no domingo. "Trabalhei tanto na área técnica como na burocrática, informava aos chefes tudo o que acontecia", revela. Todo o trabalho tem um objetivo: procurar água e gelo no planeta vermelho. Em entrevista ao Correio, por telefone, Ramon se empolga ao falar de seu trabalho e conta porque os Estados Unidos investiram U$ 420 milhões para que ele se tornasse realidade. "Ao descobrir o que acontece em outros planetas podemos aplicar os conhecimentos científicos aqui na Terra e ajudar o nosso meio ambiente", empolga-se.
De que modo surgiu a missão Phoenix?
Nós tivemos informações científicas obtidas pelo satélite Mars Odyssey, enviado em 2001, de que em uma região do pólo norte de Marte existia grande quantidade de gelo ou água. Então, com esses dados do local fizemos a missão Phoenix, para comprovar que existe gelo ou água naquela região de Marte.
E como foi feita essa descoberta?
A Mars Odyssey tem uma porção de instrumentos que medem as emissões do planeta. Dois dos materiais que a sonda detectou foram o hidrogênio e o oxigênio. Isso é uma grande indicação de que exista água. A quantidade é tanta que só pode estar vindo de vapor de água. Todo mundo tem quase certeza de que exista água lá. Agora a Phoenix é que vai conseguir realmente provar isso. Mas depende da profundidade que este gelo e essa água estiverem localizados.
Como você começou a trabalhar no projeto?
Eu trabalhava na área de tecnologia da Nasa, principalmente nos ramos de comunicações e ótica. Em 2000, houve uma grande mudança no programa de Marte depois de termos perdido duas sondas um ano antes. Eles fizeram uma reorganização e levaram pessoas novas para trabalharem no programa. E foi assim que eu tive essa oportunidade tão especial.
Agora quais serão os próximos passos da Phoenix?
Nos primeiros sete dias vamos fazer uma caracterização de todos os instrumentos e de todos os equipamentos. Vamos checar e ter certeza de que está tudo funcionando porque a viagem foi muito grande, a sonda passou por extremos de temperaturas e também muitos choques durante o lançamento e a aterrissagem. O passo mais importante deve ocorre hoje, que será a retirada do braço do lugar que ele está guardado com a escavadeira. Daqui a uma semana é que vamos pegar o solo e pôr as amostras dentro dos instrumentos
O braço robótico vai conseguir alcançar a água ou o gelo?
O braço tem dois metros de alcance em volta da nave. Tudo vai depender da qualidade do solo. Mas eu diria que provavelmente ele vai poder escavar um buraco de no máximo 30 a 40 cm.
Dentro da Phoenix existe um laboratório?
Ela tem três laboratórios, onde vão ficar os materiais colhidos do solo para processar e separar todas as moléculas e elementos. Os instrumentos vão ler aquilo e mandar essa informação para a Terra por meio do rádio.
E tudo é controlado por um laboratório da Nasa?
Sim. A Phoneix recebe mensagens de dois satélites. Na verdade, preparamos um grande número de seqüências que a sonda vai implementando. O que a gente faz é mandar uma autorização para a próxima ação. Tudo foi muito bem planejado para que dê certo. Tivemos oito práticas simulando todo o processamento.
Depois de comprovada a água o que vai ocorrer?
Nós temos uma missão para 2009 que é chamada de Mar Science Laboratory. Vamos usar energia nuclear ao invés de depender de painéis solares, como ocorre com a Phoenix. Vai ser um jipe, mais ou menos do tamanho de um Chevette, daqueles que a gente tinha antigamente no Brasil, que vai carregar uma grande quantidade de equipamento. Mas tudo depende do que vamos descobrir com a Phoenix.
Há possibilidade de Marte abrigar seres vivos?
É lógico que sempre existe uma possibilidade. Porque para nós, humanos, a vida depende da água. Mas não quer dizer que porque tem água, tem vida. E também que em outro lugar do universo possa existir uma vida que não dependa da água. É muito importante pra gente saber se existe água porque então, vamos procurar por moléculas orgânicas. Não tem jeito, tem que ser um passo de cada vez..
Por que fazer uma missão como essa?
Eu acho que se a gente entender o que ocorre ou ocorreu lá podemos aplicar aqui no nosso planeta. Queremos implantar os conhecimentos. E saber o que podemos fazer para melhorar o meio ambiente para que a Terra não fique igual a Marte, supostamente devastada.