postado em 29/05/2008 17:08
A Organização das Nações Unidas (ONU) informou nesta quinta-feira (29/05) que o regime de Mianmar liberou todos os vistos de entrada pendentes para os trabalhadores humanitários da entidade. Há quase um mês, o ciclone Nargis atingiu o país e deixou mais de 2 milhões de pessoas dependentes de ajuda. Em comunicado, a ONU indicou que muitos estrangeiros inicialmente barrados estavam se dirigindo para o delta do Rio Irrawaddy, região mais atingida pelo ciclone ocorrido nos dias 2 e 3 de maio.
"Eu fui a algumas áreas nas quais nenhum pessoal de ajuda internacional havia estado, e as prioridades para essas pessoas são comida e abrigo", relatou Tony Banbury, chefe regional do Programa Mundial de Alimentação da ONU. "Nós teremos que trabalhar muito duro para fornecer esses itens para eles." Banbury utilizou um helicóptero para alcançar alguns dos afetados pelo ciclone. Estima-se que o Nargis deixou 2,4 milhões de pessoas dependendo de doações para comer, além da necessidade de abrigos e medicamentos, de acordo com a ONU. O governo cita 78 mil mortos e 56 mil desaparecidos.
"Barras de chocolate"
Enquanto isso, a mídia estatal birmanesa esnobou nesta quinta o auxílio internacional. Segundo o jornal Myanma Ahlin, a população do delta poderia sobreviver com "vegetais frescos selvagens dos campos e com o peixe rico em proteínas dos rios". Isso caso eles não conseguissem as "barras de chocolate doadas pela comunidade internacional". A referência a barras de chocolate parecia ser uma metáfora. Nenhuma agência está entregando esse produto na região, que seria de pouca serventia no calor tropical do país.
O diário disse que a ajuda internacional era bem-vinda, mas "o povo de Mianmar (...) pode se sair bem sem assistência estrangeira". Sem citar nomes, o jornal oficial afirmou que a recusa de instituições de realizarem empréstimos e outras formas de ajuda financeira às vítimas era "um ato de desumanidade". Na noite desta quinta a mídia estatal informou que a junta militar adotou a nova Constituição. Para os críticos, o texto abre caminho para que os militares se perpetuem no poder. A legislação foi aprovada em referendo neste mês, pouco depois da passagem do ciclone.