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Bolívia: duas regiões opositoras a Evo Morales votam pela autonomia

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postado em 31/05/2008 14:55
LA PAZ - As regiões opositoras bolivianas de Beni e Pando, em uma tentativa de descentralizar o Poder Executivo, votarão neste domingo sua autonomia, apesar do presidente Evo Morales considerar a consulta sem validade legal. Os dois departamentos amazônicos, dedicados às atividades florestal e pecuária, seguem os passos da próspera Santa Cruz para instaurar governos autônomos, considerados ilegais e separatistas pelo presidente, cuja base eleitoral está nos Andes bolivianos. Beni, de cerca de 422 mil habitantes e com um território menor que o do Equador, pretende seguir os passos de Santa Cruz, que aprovou seu estatuto autonômico com o apoio de 85,6% dos votos dos participantes. "Estou seguro que o 'sim' ganhará com contundência", afirmou ao jornal La Razón o prefeito opositor de Beni, Ernesto Suárez, um dos principais artífices dos processos de autonomia e forte crítico do presidente socialista. Suárez, aliado do partido direitista Podemos, destacou o referendo de julho de 2006, quando o departamento apoiou este modelo de administração pública com 74% dos votos. "Estamos trabalhando para reeditar o que fizemos em 2 de julho de 2006, para sermos o departamento com o maior percentual de votação favorável à autonomia", afirmou o prefeito, que pretende ser o futuro governador do departamento. O prefeito Leopoldo Fernández, de Pando, a outra região que irá às urnas (cerca de 74 mil habitantes), defendeu o caráter democrático da consulta. "Nós acreditamos haverá uma linda festa democrática em 1º de junho", declarou à imprensa local Fernández, também aliado do Podemos, questionado pelos adversários pelo férreo controle que exerce sobre a região há 15 anos. Enquanto os líderes políticos e cívicos de direita se preparam para festejar um triunfo que têm como certo, sindicatos camponeses pró-governistas bloqueiam as estradas em pelo menos três comarcas de Beni para impedir a consulta. A medida se estendeu aos povoados pobres de Yucumo, Rurrenabaque e Filadélfia, sem incidentes graves, e deverá atingir outros nas próximas horas. O governo de Morales, que considera os afãs autonomistas como ocultos interesses para dividir a Bolívia, pediu que as legítimas demandas para descentralizar a administração pública sigam o caminho legal de uma nova Constituição. "Devemos estabelecer um pacto nacional que permita, por exemplo, que as autonomias cheguem pela via da legalidade", afirmou o vice-ministro Héctor Arce, braço direito do presidente Morales, que assinalou que por esta razão os resultados da consulta não serão reconhecidos. Os dois referendos serão realizados no momento em que a Bolívia está mergulhada em uma forte crise política, com posições discordantes entre os governistas, que apóiam um projeto de Constituição incluindo as reivindicações tradicionais dos indígenas, e a oposição, que estimula o projeto de governos autônomos de orientação liberal. O governo, por sua vez, convocou referendos revogatórios dos mandatos de presidente, vice-presidente e de nove prefeitos para 10 de agosto, ainda que poucos creiam que a consulta possa aliviar a crise política.

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