Mundo

Aids: O exemplo brasileiro

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postado em 03/06/2008 16:25
Por Carlos Gropen* A Aids acomete uma grande parcela da população mundial. Em países africanos, o problema é ainda mais grave devido à falta de acesso aos medicamentos que mantêm a população viral sob controle - ou seja, diminuem a possibilidade de infecções por microrganismos oportunistas e aumentam assim a sobrevida dos pacientes. Nem todos os países tiveram a coragem de agir contra os interesses econômicos de multinacionais. Leia-se: a poderosa indústria farmacêutica. Leis existem para o bem-estar comum e não para o benefício apenas de um pequeno grupo. Paga-se com vidas a conta do descaso, e lucram os acionistas. Do descaso relativo ao tratamento dos portadores do vírus HIV decorre o incremento de infortúnios que há muito deixaram de representar grande preocupação, como a tuberculose multirresistente. Assim, observa-se a omissão ululante de muitos governos pelo mundo que não seguiram o exemplo brasileiro de distribuição gratuita dos remédios cujo custo a população carente não poderia pagar. Grupos de risco? Não só. Os soropositivos são, grande parte das vezes, pessoas comuns, longe do estigma irreal de uma doença cujos primeiros pacientes eram homossexuais e legaram o preconceito. As novas medicações aumentaram a sobrevida e mudaram o aspecto dos doentes, que não parecem estar doentes: crianças, senhoras, profissionais de saúde, ricos e pobres, homens heterossexuais, mulheres de meia idade, inclusive obesas, idosos e adolescentes. Ninguém está livre. O conceito de grupos de risco foi atenuado. O vírus não respeita as fronteiras entre os países. Natureza injusta? Talvez. Ganham os acionistas dos laboratórios, os especuladores e pessoas que trocam corações por números. Nada contra o lucro. Investimentos são importantes para o progresso da ciência, mas há um limite nem tão tênue assim. Faltam bom senso e prioridades. O Brasil merece parabéns, pois, entre tantos desencontros, orgulha-nos como nação modelo que agiu com a razão da ética humana frente à omissão alheia que troca vidas por dividendos. E que as nações desenvolvidas se lembrem disso: Aids e doenças afins não respeitam fronteiras. * Carlos Gropen é médico e consultor de saúde do Correio Braziliense

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