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Entrevista David Bennett: Descoberta de menor planeta fora do sistema solar pode levar à vida

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postado em 03/06/2008 18:38

Um consórcio internacional de cientistas liderado pelo norte-americano David Bennett, da Universidade Notre Dame (Indiana), descobriu o menor planeta fora do sistema solar de que se tem notícia. Em entrevista ao Correio, por e-mail, Bennett falou sobre o achado e comentou que o "novo" astro -- batizado de MOA-2007-BLG-192Lb poderia abrigar vida. Após a entrevista, leia o depoimento que o também norte-americano John C. Mather, Prêmio Nobel de Física em 2006, projetista do Telescópio Espacial James Webb e astrofísico da Nasa (agência espacial dos Estados Unidos), enviou à reportagem também por e-mail.

Como o senhor descobriu o MOA-2007-BLG-192Lb e qual o tamanho desta planeta em comparação com a Terra?

Nossas melhores estimativas são de que a massa do MOA-2007-BLG-192Lb seja 3,3 vezes maior que a massa da Terra. O planeta que descobrimos está localizado a 3 mil anos-luz da Terra.

Por que é tão importante para a ciência revelar planetas como esse?

O MOA-2007-BLG-192Lb poderia abrigar vida, mas as condições lá são muito diferentes das da Terra. A principal fonte de calor no planeta é provavelmente a presença de átomos radioativos dentro do astro, já que a estrela hospedeira (sol) é muito escuro para fornecer tanto calor. De qualquer modo, teóricos têm especulado que tal planeta possa ser quente o suficiente para abrigar vida semelhante à da Terra, se mantida em uma atmosfera muito densa -- mil vezes mais grossa que a atmosfera terrestre. De qualquer modo, seria difícil encontrar evidências de vida neste planeta. Por outro lado, planetas orbitando estrelas anãs vermelhas de massa muito pequena, em órbitas próximas, são as mais fáceis de se buscar sinais de vida. Nossa nova descoberta mostra que tais estrelas deveriam ter planetas. Isso significa que seremos capazes de começar o rastreamento por indícios de vida em planetas próximos de estrelas anãs, após o lançamento do Telescópio Espacial James Webb entre 2013 e 2014.

Novo planeta extra-solar MOA-2007-BLG-192Lb

Quais as características do sol no qual esse planeta orbita?

A estrela deste planeta tem apenas 6% da massa do Sol, o que significa que provavelmente não é pesada o suficiente para sustentar reações nucleares em seu interior. Tal estrela é conhecida como "anã marrom", ainda que recentes estudos tenham mostrado que as anãs marrom tenham uma cor magenta. Trata-se da menor estrela próxima de um planeta já descoberta.

É mais provável encontrar vida em um planeta extra-solar como o MOA-2007-BLG-192Lb?
Dado o imenso número de estrelas em nossa galáxia e de galáxias em nosso universo, parece ser muito improvável que a Terra seja o único planeta com vida. De qualquer modo, é certamente possível que a vida seja rara o suficiente para que não encontremos qualquer indício dela em volta dos mais próximos 100 sóis (estrelas) da Terra. Minha desconfiança é de que encontraremos vida em um planeta orbitando uma estrela próxima.


Depoimento de John C. Mather


"Esse é apenas o começo das descobertas de pequenos planetas ao redor de estrelas que poderiam abrigar a vida. Eu tenho escutado que esse planeta em particular (MOA-2007-BLG-192Lb) é muito frio para suportar a vida em sua superfície. Acho que é importante precisarmos olhar em todos os lugares possíveis, no sistema solar e ao redor de outras estrelas próximas. O método básico de deteção desses planetas fora do sistema solar é simples: observamos várias estrelas, e esperamos até que uma delas se torne mais brilhante, graças à chance de alinhamento com outra estrela atrás dela. O campo gravitancional da estrela no meio faz com que a de trás pareça mais brilhante por vários meses. A presença de um planeta ao redor da estrela afeta o brilho por um dia. Sou cientista do Telescópio Espacial James Webb (JWST). Esperamos que o JWST seja usado para anunciar as descobertas de planetas ao redor de outros estrelas. Em particular, esperamos que alguns planetas sejam observados com a técnica de trânsito da JWST. Com esse método, o planeta que passa entre nós e seu sol podem ser estudados porque parte da luz da estrela passa através da atmosfera dos planetas."

O astrofísico norte-americano John C. Mather trabalha na Nasa, ganhou o Prêmio Nobel de Física em 2006 e é projetista do Telescópio Espacial James Webb

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