postado em 04/06/2008 13:49
MOSCOU - O presidente russo Dmitri Medvedev terá na sexta-feira seu "batismo de fogo" diplomático durante uma reunião de cúpula da CEI (ex-URSS com exceção dos Estados bálticos), na qual uma série de temas espinhosos serão abordados, da Abkhásia à ampliação da Otan em áreas pós-soviéticas. Medvedev terá vários encontros bilaterais como parte desse encontro informal em São Petersburgo (noroeste), principalmente com seus colegas georgiano Mikhail Saakachvili e ucraniano Viktor Yushchenko, informou o Kremlin, no momento em que a tensão se intensifica entre Moscou e seus dois vizinhos pró-ocidentais que desejam ingressar na Otan.
O novo presidente russo se reunirá com Saakachvili e Yushchenko pela primeira vez desde a sua chegada ao poder no dia 7 de maio. "A conversa será muito difícil", disse o conselheiro diplomático de Medvedev, Serguei Prikhodko, citado pelo jornal Nezavissimaïa Gazeta. Em suas visitas à China e ao Cazaquistão no final de maio ou em sua viagem prevista para esta quinta-feira a Berlim, os primeiros passos de Medvedev no cenário internacional foram até agora comedidos.
As questões mais delicadas na agenda de São Petersburgo serão a situação na república separatista da Abkhásia, na Geórgia, e o posicionamento da frota russa no Mar Negro, em águas ucranianas. Na terça-feira, o presidente georgiano criticou o recente envio de tropas russas para a Abkhásia, o que Tbilisi considera uma tentativa de anexação da região separatista por Moscou.
A comissária européia das Relações Exteriores, Benita Ferrero-Waldner, declarou nesta quarta-feira em Moscou que as "atuações" da Rússia na Geórgia ameaçam "a estabilidade" da região. Os encontros entre russos e ucranianos também deverão ser complicados. As autoridades de Moscou estão irritadas com um decreto assinado no final de maio pelo presidente ucraniano que pede a elaboração de uma lei sobre o "fim a partir de 2017 dos acordos internacionais" que fazem de Sebastopol (Ucrânia) o porto para a Marinha russa no Mar Negro.
O presidente russo já havia elevado o tom na semana passada em relação à Ucrânia, alertando Yushchenko para "decisões unilaterais que contradizem os acordos estabelecidos". O desejo da Ucrânia e da Geórgia de entrar para a aliança atlântica também preocupa particularmente os russos, que não param de criticar a ampliação da Otan. A Duma, câmara baixa do Parlamento russo, pediu nesta quarta-feira ao presidente russo que abandone o Tratado de Amizade e Cooperação com a Ucrânia caso esta se torne oficialmente candidata à adesão à Otan.
"É pouco provável que haja grandes avanços" nessas questões mais delicadas, considera a cientista política russa Evgueni Volk da Fundação americana Heritage. Moscou manterá suas posições e utilizará "a pressão energética e militar" sobre seus vizinhos, considera Volk.
A Rússia utiliza com freqüência a arma energética em sua relação com Kiev, enquanto que a crescente presença de militares russos nas repúblicas separatistas georgianas da Abkhásia e da Ossétia do Sul preocupa seriamente Tblisi. Além dos encontros com seus colegas georgiano e ucraniano, Medvedev terá reuniões bilaterais com os presidentes da Moldávia, do Azerbaijão, da Armênia e dos países da Ásia Central, para abordar principalmente temas relativos à cooperação econômica, na véspera do fórum econômico de São Petersburgo.