postado em 05/06/2008 08:37
Roma, Itália - Por ser muito cedo, a Piazza Navona ainda não começara a receber seu habitual lote de turistas quando o diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), Pascal Lamy, deixou a embaixada do Brasil, um dos marcos da praça, após tomar o café da manhã com o chanceler brasileiro, Celso Amorim.
Lamy saía, rumo ao aeroporto para embarcar para Paris, e entravam quatro dos principais negociadores brasileiros, que chegavam de Genebra, o quartel-general da OMC de Lamy.
Quando o sol já queimava no quase-verão romano, chegou Susan Schwab, a chefe do USTr (uma espécie de Ministério do Comércio Exterior norte-americano), para reunir-se e, em seguida, almoçar com Amorim, que, logo depois, iria para Paris, mesmo destino de Schwab (e de Lamy).
Vão se encontrar com, entre outros, o ministro indiano do Comércio, Kamal Nath, e o comissário europeu para o Comércio, Peter Mandelson.
Flávio D´Amico, um dos quatro diplomatas que chegavam à embaixada quando Lamy saía, vinha de duas semanas de reuniões dia e noite em Genebra, uma rotina que se arrasta desde setembro.
Todos esses personagens são atores centrais da Rodada Doha, a mais ambiciosa negociação planetária para a liberalização comercial, lançada em 2001, mas encantada desde então, do que dá prova o frenético ir-e-vir dos negociadores.
O frenesi não impediu que se perdesse um prazo após o outro. O mais recente deles é a data para uma Conferência Ministerial, a instância suprema da OMC, a única que de fato decide -e tem que decidir pelo consenso entre os 151 países-membros. Não há votação -o que ajuda a explicar por que o ritmo frenético não conduz a acordos.
Pelos estatutos da OMC, a Ministerial tem que dar-se a cada dois anos. A mais recente foi em Hong Kong, em dezembro de 2005.
Logo, deveria ter havido outra até dezembro do ano passado. Não houve porque fracassaria ante os desacordos sobre Doha.
Numa mini-ministerial em Davos, em janeiro passado, acenou-se com a hipótese de uma Ministerial em abril. Não deu. Agora, Schwab diz que pode ser neste mês ou em julho.
"Abril, neste ano, vai cair em junho. Ou julho", brinca o chanceler Amorim, ao aceitar a hipótese de Schwab.