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Obama precisa obter mais respaldo entre os eleitores brancos

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postado em 08/06/2008 09:42

Há um ano, quando a corrida eleitoral norte-americana começava, uma pergunta intrigava os republicanos: qual candidato teria alguma chance contra Hillary Clinton? A indicação da ex-primeira-dama era dada como inevitável, embora um certo senador em primeiro mandato, filho de imigrante, sinalizasse que estava disposto a desafiá-la pela vaga.

Em uma das campanhas mais inusitadas da história política do país, Barack Hussein Obama conquistou o direito de disputar a Casa Branca. Mais que isso, quebrou tabus que duravam desde a fundação dos Estados Unidos da América. O preconceito, no entanto, pode privá-lo de continuar derrubando barreiras.

Não é a primeira vez que um jovem candidato sem experiência no Executivo ; mesmo estadual ; vence as primárias de um dos grandes partidos. Senador calouro, Obama tem também em seu currículo uma passagem pelo Parlamento de Illinois e um histórico de ativismo social no estado, onde atuou como advogado.

No entanto, é a primeira vez que um negro, filho de imigrante (um queniano), com sobrenome muçulmano e nascido no remoto Havaí chega lá. Eugene Robinson, comentarista político do jornal The Washington Post, conta que o senador por Illinois ;teve de desafiar ; e derrotar ; 389 anos de história;, referindo-se a 1619, quando os africanos começaram a chegar à América do Norte.

O tema racial, que já permeou a campanha após os agressivos discursos do ex-pastor de Obama, Jeremiah Wright, se disseminarem pela internet, pode voltar à tona. Fotógrafos captaram cartazes com dizeres sobre ;orgulho branco; ou ;típico americano branco; em comícios recentes de Hillary e do candidato republicano, John McCain.

Pesquisa da revista Newsweek divulgada no final de maio revela que, entre os eleitores brancos, 52% preferem McCain, senador pelo estado do Arizona (sudoeste), enquanto 40% pretendem votar em Obama. Contra Hillary, a vantagem do republicano era de apenas quatro pontos percentuais (48% contra 44%).

O mesmo estudo revela que os eleitores com maior ;ressentimento racial; geralmente não completaram a universidade, são mais velhos (44% com mais de 60 anos) e moram no sul (46%). No geral, 11% dos consultados disseram acreditar que Obama seja muçulmano ; na verdade, ele é cristão ;, e 18% dos democratas brancos admitiram que tendem a julgá-lo negativamente por conta do nome típico de um islâmico.

Esperança
Outro dado, porém, dá confiança aos simpatizantes do senador. Em 2000, apenas 37% dos cidadãos norte-americanos afirmavam que o país estava pronto para ter um presidente negro. Hoje, 70% acham que um candidato como Obama pode chegar à Casa Branca. Caso isso se concretize, o advogado será, aos 47 anos, um dos chefes de Estado mais jovens desde a independência dos EUA.

Nascido em família de classe média, Obama é filho de mãe branca, do Kansas, e pai queniano que deixou o lar para estudar na prestigiosa Universidade Harvard. O hoje senador só voltaria a ver o pai, também Barack Obama, aos 10 anos, e nunca mais.

Depois de morar em Jacarta (Indonésia) com o padrasto e a mãe, Obama voltou ao Havaí para ficar com os avós maternos e, de lá, foi completar os estudos em Columbia e Harvard. Trabalhou com assistência social e como advogado em Chicago, onde começou a carreira política.

Para suplantar a base eleitoral montada por Hillary antes das primárias deste ano, Obama recorreu a uma estratégia que, segundo a revista Time, misturou táticas de ;insurgência; e planejamento típico de uma corporação. Investiu nos estados menos populosos, incentivou a população jovem a votar e se valeu da internet para arrecadar dinheiro e conquistar eleitores como nenhum outro político nos EUA.

De fato, o senador é o primeiro candidato ;insurgente; ; que não contava com o apoio da máquina partidária nem era considerado favorito ;, em décadas, a conquistar a indicação democrata. O último tabu ele pode derrubar em 4 de novembro, se vencer McCain, e tornar-se o primeiro presidente negro na maior potência do planeta.

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