postado em 11/06/2008 10:39
JUYUAN - A China prometeu fortes controles e severas sanções e assegurou que a corrupção não afetará os esforços de reconstrução de Sichuan, mas um mês depois do terremoto que devastou esta província do sudoeste do país, as vítimas continuam se mostrando céticas. "É pouco provável" que as autoridades cumpram este compromisso", comenta He Feng, um camponês de Juyuan (sudoeste).
Em Juyuan, uma escola desabou durante o tremor de 12 de maio, matando centenas de crianças. Os pais acusaram os funcionários corruptos de má qualidade dos edifícios. "Os funcionários do governo não são todos corruptos, mas aqui, em geral, as coisas são assim", acrescenta o homem de 59 anos.
A China recebeu bilhões de dólares em ajuda de todo o mundo, destinados aos sobreviventes do terremoto que deixou 69.146 mortos e 17.516 desaparecidos. O governo prometeu o equivalente a 10 bilhões de dólares para a reconstrução a partir desse ano. Contudo, neste país em plena expansão econômica, a corrupção é uma praga, tanto na administração pública como em todos os estratos da sociedade, e fazem falta uma imprensa livre e um sistema judicial independente.
As enormes quantidades de dinheiro que circularão para a reconstrução das zonas devastadas pelo tremor poderão despertar o apetite dos funcionários de diversos níveis, adverte a jornalista dissidente Dai Qing. Segundo Dai, a China deve criar estruturas independentes para a construção de edifícios anti-terremotos e para a gestão dos fundos, com o objetivo de evitar a corrupção. "Garantir a transparência dessas questões e publicar o resultadp das investigações deveria ser o primeiro passo", afirma.
Metade dos habitantes de Pequim que fizeram doações em favor das vítimas querem a divulgação de como os fundos são utilizados, segundo uma pesquisa realizada pelo Escritório de Estatísticas de Pequim e publicado nesta quarta-feira pelo jornal Beijing News. Cerca de 60% temem que as doações sejam desviadas. Enquanto as forças de emergência continuam buscando possíveis sobreviventes nos escombros, já começaram a circular as primeiras informações sobre o desaparecimento de materiais de resgate.
O governo reiterou em numerosas ocasiões que os funcionários corruptos ou os especuladores serão severamente punidos. Um "mapa do caminho" sobre a reconstrução, do qual vazaram alguns trechos, assinala também a necessidade de transparência. Contudo, segundo Dai Qing, "é necessária uma imprensa livre para supervisionar os dirigentes corruptos e para ser os olhos e ouvidos do povo. É impossível para os dirigentes vigiar todos os funcionários do país".