postado em 13/06/2008 16:56
PARIS - A crise aberta pela rejeição irlandesa ao Tratado de Lisboa é um duro golpe para a presidência francesa da União Européia e relegará para o segundo plano os ambiciosos projetos que o presidente Nicolas Sarkozy contava iniciar a partir de 1º de julho.
Antes do "não" irlandês, Sarkozy havia prometido dedicar sua presidência da UE a uma série de projetos, como defesa, energia e aquecimento global, União do Mediterrâneo e um pacto para a imigração.
"As quatro prioridades definidas por Nicolas Sarkozy para a presidência francesa se referem à essência e podem ser atingidas no marco do Tratado de Nice, apesar da vitória do 'não' irlandês", informou a presidência francesa.
"Esses quatro objetivos concretos devem mostrar que a UE é capaz de responder às preocupações concretas dos europeus, o que é, exatamente, a mensagem do 'não' irlandês", destacou a presidência francesa.
O presidente francês também deveria preparar, porém, as primeiras reformas institucionais do Tratado de Lisboa, como a nomeação do "presidente da UE" e do novo alto representante das Relações Exteriores, que ficam, agora, fora da agenda.
Lição francesa
Ironia da história, cabe hoje a Paris evitar uma paralisia européia idêntica à que se seguiu ao "não" francês de 2005. Assim como naquela época, não há um plano alternativo para enfrentar a crise.
"Os franceses tentarão sair do atoleiro, mas não têm muito tempo, se considerarmos as férias do mês de agosto. É uma presidência de cinco meses", avaliou Hugo Brady, do Centre for European Reform, com sede em Londres.
Para outro analista, Jean-Dominique Giuliani, da Fondation Robert Schuman, esse precedente levará a presidência francesa a "acelerar" as iniciativas, lembrando que "a chanceler alemã, Angela Merkel, já descartou voltar a negociar".
"Será dito aos irlandeses: 'quais são as garantias desejadas?'. Como se fez em relação ao Tratado de Nice", que também foi rejeitado em um primeiro momento, explicou Giuliani.
Já para Thomas Klau, do European Council on Foreign Relations, essa possibilidade é provável apenas se a crise opuser a Irlanda aos outros 26 membros do bloco.
"Mas se Grã-Bretanha e República Checa interromperem, por sua vez, todo o processo de ratificação, todo o debate institucional ficará de novo aberto, sem solução à vista".
A presidência francesa e seus associados poderão tentar convencer Londres e Praga, mas "não têm meios coercitivos", destacou.
Essa situação deve levar a presidência francesa a tirar lições do "não" irlandês, avaliou Sylvie Goulard, presidente do Movimento europeu França, acrescentando que, qualquer consulta desse tipo na UE deve ser feita, no futuro, "com uma sanção já preparada em caso de não".