postado em 15/06/2008 08:55
Taj Muhammad Taabay sabe que o Talibã é uma ameaça constante. ;Eles são o tipo de gente fanática;, afirmou ao Correio, pela internet. O afegão de 28 anos, funcionário do Programa Mundial de Alimentos da ONU (WFP), não estava em casa, na cidade de Kandahar, quando um caminhão-tanque guiado por um homem-bomba levou pelos ares o portão da penitenciária de Sarposa ; a principal do sul do Afeganistão ; às 21h55 de sexta-feira (14h25 em Brasília). Foi um dos atentados mais ousados realizados pela milícia fundamentalista que governou o país com mão-de-ferro entre 1996 e 2001.
Enquanto o veículo explodia, um extremista suicida derrubava o muro dos fundos e foguetes eram disparados no pátio da prisão. ;Depois, uns 20 milicianos invadiram o complexo a bordo de motocicletas;, contou Taabay. Em poucos minutos, 1.100 prisioneiros escaparam, incluindo 390 talibãs. Quinze policiais morreram no ataque.
;Uma grande operação está em curso para encontrar os fugitivos;, disse Mohammad Qasim Hashimzai, vice-ministro da Justiça, à agência de notícias France-Presse. O Exército do Afeganistão e tropas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) bloquearam cidades, rodovias e estradas vicinais. Até a noite de ontem, apenas seis pessoas tinham sido capturadas. Por meio de nota divulgada no site do Talibã, o porta-voz do grupo, Yousuf Ahmadi, declarou que a incursão na penitenciária faz parte de uma operação maior, chamada Ibrat (lição, em árabe).
Walid Karzai, chefe do Conselho Provincial de Kandahar e irmão do presidente Hamid Karzai, admitiu que importantes comandantes do Talibã ganharam a liberdade, citando nomes que incluem os mulás Kayom, Gulbari e Khaled Agha.
A ousada ofensiva à prisão de Kandahar expõe a frágil situação do país. Em entrevista ao Correio, o norte-americano Robert Templer ; especialista em Ásia pelo International Crisis Group (ICG) ; considerou o ataque um grande retrocesso à segurança do sul do Afeganistão. ;O fato de o Talibã ter libertado tantos presos é um claro indício do fracasso das forças de segurança afegãs e da Otan;, disse. E alertou: ;Isso provavelmente vai restaurar alguma capacidade da milícia, já que eles soltaram líderes de suas fileiras;.
Mudança de tática
Segundo Templer, os milicianos mudaram suas táticas em desafio à segurança, por meio de assassinatos e atentados com explosivos. ;Eles não conseguirão retomar o controle do país, mas estão provocando grave instabilidade e impedindo melhorias na governança e na economia;, explicou.
O analista critica a quantidade insuficiente de tropas e a incapacidade do presidente Karzai de aprimorar a qualidade de vida da população de 32,7 milhões de afegãos. ;O governo precisa demitir oficiais corruptos e violentos e impulsionar o desenvolvimento;, aconselhou o norte-americano. Ele defende também que o Paquistão elimine santuários terroristas no país e deixe de financiar o Talibã. ;A Otan tem de reforçar o contingente e fazer com que Itália e Alemanha também participem das operações ofensivas;, acrescentou.