postado em 22/06/2008 09:24
Uma nova e eficiente arma contra o câncer. Para os cientistas do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), a molécula sintética HB-19 tem grandes chances de se encaixar nessa categoria. Em entrevista ao Correio Braziliense, o pesquisador armênio-libanês Ara Hovanessian - principal responsável pelo estudo divulgado na revista científica Plos One - explicou como a substância ajuda a combater e deter a proliferação do tumor, sem provocar reações colaterais no paciente.
Qual é o diferencial da molécula HB-19 no tratamento do câncer e como ele atua na nucleolina?
As células do câncer se multiplicam na massa do tumor, que é irrigado com sangue por meio dos vasos sangüíneos ao redor e dentro do câncer. A multiplicação de células do tumor depende de um suprimento de sangue constante, para fornecer oxigênio e todos os nutrientes necessários. Os estudos de nosso laboratório apontaram que a nucleolina liberada na superfície da célula é um alvo estratégico para o desenvolvimento de drogas para serem usadas no tratamento do câncer. A nucleolina é um proteína altamente liberada na superfície das células e das células endoteliais, que são especializadas em gerar novos vasos sangüíneos. Ao atuar de modo simultâneo em células do tumor e nas células endoteliais, o tratamento com a HB-19 inibe o crescimento do tumor e a neoangiogênse (formação de novos vasos sangüíneos). Conseqüentemente, a HB-19 exerce um ação dupla onde uma ou outra droga age nas células do câncer ou na angiogênese. Por exemplo, o Paclitaxel combate as células do tumor, enquanto o Avastin ataca a angiogênese.
De que modo o HB-19 consegue deter, ao mesmo tempo, o crescimento celular e a angiogênese?
A HB-19 é a único molécula poderosa antagonista da nucleolina sem toxicidade. Por sua capacidade de se colar à superfície da nucleolina, ela ataca especificamente o tumor e as células endoteliais, inbindo a multiplicação das células cancerígenas e ao mesmo tempo a neoangiogênese. Os experimentos em culturas de células e em ratos enxertados com células cancerígenas humanas têm mostrado claramente que a HB-19 é tão efetiva quanto outras drogas usadas na terapia contra o câncer. De qualquer modo, o tratamento com HB-19 não provoca toxicidade, ao contrário de drogas como Taxol, Paclitaxel e 5-Fluoruridine) - que reduzem os linfócitos dos glóbulos brancos do sangue.
O senhor acredita que essa pode ser uma das drogas mais promissoras contra o câncer?
A HB-19 tem várias vantagens sobre outras drogas. A dupla ação inibidora da HB-19 no crescimento do tumor e na angiogênese preenche os critérios para uma eficiente droga anticâncer, já que a combinação desses eventos é considerada uma melhora na estratégia para o gerenciamento do câncer. Essa molécula também é sintetizada quimicamente, utilizando-se técnicas convencionais da química dos peptídeos. Será possível produzir grande quantidade de HB-19 em escala industrial. Além disso, ela é solúvel em soluções fisiológicas. Por outro lado, a solubilização de Taxol, Paclitaxel ou 5-Fluoruridine necessita do uso de solventes que poderiam causar efeitos indesejáveis.
Quando será possível realizar os primeiros testes em humanos?
Graças à dupla ação inibidora, à síntese reprodutível, à alta estabilidade, à retenção seletiva de tecidos e à falta de toxicidade, a HB-19 é uma candidata promissora à avaliação em testes clínicos. Após mais de 10 anos de duro trabalho para caracterizar a superfície nucleolina e investigar o mecanismo de ação da HB-19, esperamos que essa única molécula possa ser usada até 2011, tempo para um protocolo terapêutico eficiente contra o câncer. De qualquer modo, a HB-19 terã de passar por três fases dos estudos clínicos. A ImmuPharma PLC detém a licença para o desenvolvimento da HB-19. Eles pretendem iniciar os testes no início de 2009.
Quais foram os resultados obtidos com os ratos?
Os ratos foram enxertados com células humanas do câncer de mama, que se multiplicaram e formaram uma massa tumoral pequena em duas semanas. Esse tumor foi tratado então com a HB-19 em intervalos de dois a três dias, durante um mês. Sem a HB-19, o tumor cresceu muito de tamanho, enquanto que a HB-19 inibiu fortemente o desenvolvimento do câncer.