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Oposição se retira das presidenciais no Zimbábue e deixa Mugabe livre para agir

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postado em 23/06/2008 08:12
HARARE - O líder do principal partido de oposição do Zimbábue, Morgan Tsvangirai, anunciou neste domingo que não participará do segundo turno da eleição presidencial do próximo dia 27 de junho contra o atual presidente Robert Mugabe porque não existem garantias de que a votação será livre e justa - uma decisão que praticamente garante a reeleição de Mugabe. "Nós, no MDC (Movimento pela Mudança Democrática), não podemos pedir (aos eleitores) que votem no dia 27 porque este voto poderá custar suas vidas", declarou Tsvangirai em uma entrevista coletiva à imprensa em Harare. "Não continuaremos participando desta farsa violenta e ilegítima deste processo eleitoral", assegurou. Segundo Tsvangirai, Mugabe "declarou guerra ao afirmar que as balas de fuzil prevalecem sobre as cédulas de votação". Mugabe e Tsvangirai disputariam na próxima sexta-feira o segundo turno das eleições presidenciais, quase dois meses depois do primeiro duelo e de várias semanas de violência política. "Acreditamos que eleições que reflitam a vontade do povo são impossíveis" de serem realizadas no país, considerou. Seu abandono praticamente garante a vitória de Mugabe, de 84 anos, que governa o Zimbábue desde sua independência da Grã-Bretanha, em 1980. O partido de Mugabe, a União Nacional Africana do Zimbábue-Frente Patriótica (ZANU-PF), considerou que Tsvangirai desistiu da eleição porque "não restava outra opção" se quisesse "evitar uma derrota humilhante". O líder opositor "sabe que" seu partido "não se preparou o suficiente e que ele passou tempo demais no exterior reunindo-se com gente que não conta muito", disse o porta-voz do ZANU-PF, Patrick Chinamasa. Tsvangirai realizou uma viagem diplomática após o primeiro turno das eleições presidenciais de 29 de março, na qual ficou em vantagem em relação a Mugabe, sem ter obtido, entretanto, a maioria necessária para evitar o segundo duelo. O líder opositor negou que sua desistência da disputa eleitoral se deva a um pedido pessoal do presidente sul-africano, Thabo Mbeki, para que aceitasse a formação de um governo de unidade nacional com Mugabe. Vários rumores apresentados pela imprensa sul-africana indicavam que Mbeki, mediador da crise zimbabuana, estava pressionando ambas as partes a cancelarem o segundo turno e a iniciar um diálogo com o objetivo de criar um gabinete de união. A campanha eleitoral foi manchada do sangue de 70 militantes opositores, segundo o MDC, e ao clima de violência. Tsvangirai pediu que as Nações Unidas e as organizações pan-africanas que "intervenham para conter" o que chamou de "genocídio" em seu país. O partido enfrentou grandes obstáculos durante a campanha. Tsvangirai foi detido cinco vezes, e seu número dois, Tendai Biti, está preso por subversão, uma acusação passível de pena de morte. O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, considerou neste domingo que a retirada do líder da oposição do Zimbábue à eleição presidencial é um "episódio muito deprimente" e um "mau presságio" para o futuro do país. Algumas horas antes, os Estados Unidos haviam anunciado que queriam levar ao Conselho de Segurança das Nações Unidas a situação política no país africano, após o afastamento de Morgan Tsvangirai.

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