postado em 23/06/2008 14:38
La Paz - Quatro governadores propuseram ao presidente boliviano, Evo Morales, um pacto nacional para conduzir o país a um regime de autonomia. Ontem, o departamento (Estado) de Tarija foi o quarto a aprovar em referendo um texto sobre autonomia. O "sim" venceu com mais de 80% dos votos. A decisão expôs o confronto entre o governo federal e as regiões nas quais se concentra a maior parte dos recursos econômicos da Bolívia, dominadas por opositores de Evo Morales.
Localizado no sul boliviano, Tarija concentra 85% das reservas de gás do país. Com a votação no Estado, fechou-se o ciclo de quatro departamentos que aprovaram estatutos autonômicos entre maio e junho - também votaram Santa Cruz, Beni e Pando. "É preciso trabalhar sobre a idéia da reconciliação nacional, porque não há nenhuma possibilidade de se complementar nada se não houver um reencontro", disse o governador de Tarija, Mario Cossío.
Para o governador de Santa Cruz, Rubén Costas, é necessário "fazer um pacto nacional como fez a Espanha há 30 anos, com o Pacto de Moncloa, que transformou esse país". Firmado por todos os partidos espanhóis representados no Parlamento em 1977, o Pacto de Moncloa buscou consolidar o processo democrático e resolver a crise econômica enfrentada pela Bolívia, dois anos após a morte do ditador Francisco Franco.
O governo federal não reconheceu os resultados de Tarija, como fez com as três votações anteriores. "Os referendos não são legais e não têm nenhuma vinculação", afirmou o ministro da Casa Civil, Juan Ramón Quintana. "Enquanto não houver uma nova Constituição, só são consultas públicas." O porta-voz do presidente, Iván Canelas, declarou que o referendo em Tarija foi um "show midiático". "Não complica em nada o governo, nós insistimos no diálogo (com os governadores), mas não houve resposta", disse.
'Centralismo'
A atual Carta boliviana não reconhece a autonomia. O projeto constitucional apoiado pelo governo reconhece esse ponto, mas com um conteúdo diferente e rechaçado pelos opositores. A intenção da oposição é transferir aos Estados maior controle sobre os recursos econômicos e a política agrária. Os opositores alegam que o centralismo é em grande parte o responsável pela pobreza nacional.
Em uma tentativa de resolver a disputa política, Evo convocou um referendo no dia 10 de agosto em que ele, o vice-presidente e os nove governadores - três deles da situação - submeterão seus cargos à aprovação popular. Mas Rubén Costas e seus aliados acreditam que essa iniciativa "não solucionará a crise do país".