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Governo argentino ataca ruralistas em jornais do país

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postado em 25/06/2008 09:06
Buenos Aires - O cenário da nova etapa do conflito entre o governo argentino e o setor agropecuário não é muito animador para os que esperam um fim da crise. O conflito que completa nesta quarta-feira (25/06) 106 dias, dos quais, 101 de intermitentes bloqueios de rodovias, locaute de alimentos e desabastecimentos, tem seus sinais de enfrentamentos renovados. Hoje, os principais jornais do país publicaram nota do governo da presidente Cristina Kirchner divulgando os dados das exportações do setor, usados como forma de provocar os representantes das entidades rurais. Com o título: "Todo argentino tem direito a estar informado", a nota mostra que o governo quer que a opinião pública "saiba tudo" o que foi exportado durante os 100 dias de locaute da comercialização de grãos para exportação. Entre janeiro e maio deste ano, diz a nota, foram exportados 28,8 milhões de toneladas de grãos, quantidade superior em 893 mil toneladas a de igual período de 2007, e os exportadores receberam por estas vendas, depois de pagar as "retenções" (impostos sobre exportações), US$ 10,4 bilhões, que representam 63% mais do que no ano passado, segundo o governo. Com base nas informações da Aduana, nos primeiros cinco meses do ano, foram exportadas 3,8 mil toneladas de soja, 18% a mais do que as 3,17 mil toneladas de janeiro a maio de 2007, com receita de US$ 1,369 bilhões, ou seja, 70% a mais na comparação com igual período do ano anterior. No que diz respeito ao milho, "a Argentina se mantém como o segundo exportador mundial", diz a propaganda. Foram exportadas 7,4 mil toneladas de milho este ano ante 6,71 mil toneladas do ano passado, representando 9% a mais, e receita 71% superior. O trigo foi diferente, teve queda de 6% em toneladas exportadas, que foram 5,14 mil este ano ante 6,4 mil entre janeiro e maio de 2007. Mesmo assim, segundo a nota, os produtores ganharam 60% a mais. Durante e após o encontro com líderes ruralistas, na última segunda-feira (dia 23), o governo usou esses mesmos dados para defender as "retenções móveis" (alíquotas sobre exportações de grãos que acompanham a evolução das matérias-primas agrícolas). A publicidade oficial exibe os mesmos números que Cristina mostrou aos ruralistas e que o chefe de Gabinete da Presidência, Alberto Fernández, divulgou durante a entrevista coletiva. Os dados, segundo a nota, "pretendem demonstrar que, enquanto os argentinos eram desabastecidos, os exportadores continuaram ganhando dinheiro". O governo afirma que o locaute não foi para as exportações, mas sim contra os argentinos que "padeceram com a escassez de alimentos". "O locaute foi interno", afirma a nota, que também repete o discurso já conhecido de Cristina sobre "o excelente momento que vive o setor", por causa dos elevados preços dos alimentos no mercado internacional. "Saibam a verdade o povo argentino e seus representantes", conclui a nota.

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