postado em 27/06/2008 15:45
HARARE - O Zimbábue foi às urnas nesta sexta-feira (27/06) até às 19h (14h de Brasília) para votar no segundo turno de uma eleição presidencial em que Robert Mugabe tem a vitória garantida, já que concorreu como único candidato após a retirada do líder da oposição, Morgan Tsvangirai. A eleição, mesmo polêmica, ocorreu sem conflitos, mas com acusações da oposição e de eleitores, que dizem terem sido obrigados a votarem.
A comunidade internacional criticou a realização do segundo turno sem a presença de oposição e os Estados Unidos classificaram a votação como 'uma simulação de eleição', além de pedir aos chefes de Estado da União Africana (UA) que acentue suas pressões sobre Mugabe.
As cerca de 9.000 sessões de votação abriram as suas portas em uma atmosfera sombria para receber os 5,9 milhões de zimbabuenses aptos, mas a participação foi baixa. Segundo a Comissão Eleitoral, os primeiros resultados devem ser anunciados no sábado (28/06).
Mugabe, de 84 anos sendo 28 no poder, desde a independência do país, votou em um elegante bairro de Harare e disse à imprensa que se sentia "muito otimista" e "em plena forma".
Sem oposição
Tsvangirai, o seu adversário até domingo, quando se retirou da disputa pela violência contra os seus partidários, descreveu o dia de "trágico". "Hoje não é uma eleição. Hoje é um dia de humilhação e de vergonha, é mais um dia trágico na história da nossa nação", declarou o líder do Movimento para a Mudança Democrática (MDC), em uma carta aberta, em Johanesburgo.
"O resultado da eleição de hoje não tem sentido, uma vez que não reflete a vontade do povo do Zimbábue, só o seu medo", acrescentou, ao mesmo tempo em que pedia as pessoas para não votar.
Acusações
Na realidade, houve alegações de que, em algumas zonas do país, funcionários inspecionam as cédulas antes dos eleitores as colocarem nas urnas. "Não houve escapatória. Tive de votar em favor de Mugabe", disse à AFP, sem querer se identificar, um partidário do MDC, que foi incapaz de utilizar a cédula para exprimir o seu descontentamento.
Mais tarde, em declarações à imprensa, Tsvangirai lançou uma mensagem para a comunidade internacional, afirmando que qualquer pessoa que "reconhecer os resultados destas eleições estará negando a vontade de zimbabuenses".
Tsvangirai agradeceu aos líderes africanos que estão trabalhando para uma solução negociada para que o "Zimbábue se una a nova África".
Disputa
O candidato do MDC derrotou Mugabe no primeiro turno das eleições, em 29 de março. Nestas eleições, que foram também legislativas, o partido de Tsvangirai arrebatou a maioria do Zanu-PF de Mugabe na Câmara dos Representantes.
Nesse clima, os ministros de Relações Exteriores do G8, afirmaram nesta sexta que não reconhecem a legitimidade de um governo do Zimbábue que "não reflete a vontade do povo". "Lamentamos as ações das autoridades do Zimbábue - violência sistemática, intimidação e obstrução - que tornaram impossível uma eleição livre e justa", observaram os oitos chefes da diplomacia dos países mais industrializados do planeta, reunidos em Kyoto (Japão).
Além disso, a secretária de Estado, Condoleezza Rice, disse nesta sexta-feira que os EUA irão consultar o Conselho de Segurança para considerar novas sanções da ONU. "Está absolutamente claro para todo mundo que isso é uma simulação de eleição, realizada por uma governo não tirará disso qualquer legitimidade, diga o que disser", declarou, por sua vez, o porta-voz do departamento de Estado, Tom Casey.
Casey também denunciou "a real atmosfera de medo e intimidação" que reina no país.