postado em 29/06/2008 14:54
HARARE - O presidente do Zimbábue Robert Mugabe, reeleito neste domingo (29/06) à liderança do Estado depois de uma controvertida eleição sem adversários, expressou sua esperança de um rápido diálogo com a oposição em seu discurso ao tomar posse do cargo.
"Tenho a esperança que dentro em pouco realizaremos consultas entre os partidos políticos de diferentes opiniões a fim de instaurar um diálogo sério que modere nossa diferenças e resulte numa era de unidade e de cooperação", declarou Mugabe.
"As eleições passaram, nosso desafio hoje e nos anos a nossa frente é avançar juntos, qualquer que seja nossa orientação, unidos por uma visão comum de um Zimbábue próspero", acrescentou.
Horas antes, Mugabe havia sido declarado vencedor do segundo turno presidencial realizado na véspera. "Declaro Robert Gabriel Mugabe presidente eleito da República do Zimbábue", disse o responsável pela votação da Comissão Eleitoral no Zimbábue, Lovemore Sekeramyi, depois de ter lido os resultados de cada província separadamente.
No total, Mugabe ganhou 2.150.269 de votos, contra 233 mil do adversário Morgan Tsvangirai.
Os resultados de cada uma das dez províncias seguiu o mesmo padrão, o que era previsível já que Mugabe não tinha qualquer adversário desde que o líder da oposição Morgan Tsvangirai desistiu, após a repressão contra os seus partidários.
A participação oficial não chegou à metade dos 5,9 milhões de eleitores inscritos nos registros de votação (42,37%).
Mugabe, de 84 anos, sendo que há 28 no poder, tomou posse sem demora durante uma cerimônia organizada de acordo com os costumes da antiga potência colonial britânica, com disparos de canhão e fanfarra.
"Servirei a este país no cargo de presidente com esmero e sinceridade, que Deus me ajude", declarou Mugabe ao prestar juramento.
A oposição criticou mais uma vez o segundo turno eleitoral. "É uma farsa completa e um ato de desespero do regime", disse à AFP o porta-voz do partido da oposição Movimento para a Mudança Democrática (MDC), Nelson Chamisa. "Essa reeleição poderia ser incluída no Livro Guinness de Recordes como a piada do ano", acrescentou.
Chamisa informou ainda que o líder oposicionista Morgan Tsvangirai foi convidado para a cerimônia de posse de Mugabe, o que foi confirmado pelo ministério da Informação. "É claro que ele não vai assistir à cerimônia", afirmou Chamisa.
Tsvangirai, que venceu de Mugabe no primeiro turno de 29 de março, retirou sua candidatura, há uma semana, como resposta a repressão contra os seus partidários. Em função disso, o Ocidente classificou essas eleições de "farsa eleitoral".
A oposição também reagiu friamente ao pedido de diálogo lançado por Mugabe. "Não vemos relação entre suas palavras e as ações horríveis que acontecem na prática. Há um déficit de sinceridade e um fosso de credibilidade. Nós o ouvimos dizer uma coisa e depois ele faz algo complemente diferente. É muito difícil confiar nele", conclui Chamisa.
O Conselho da Paz e Segurança (CPS) da União Africana (UA), organismo encarregado da prevenção de conflitos no continente, por sua vez, iniciou neste domingo uma reunião dedicada ao Zimbábue.
Vários chefes de Estado dos países membros do CPS, como o ruandês Paul Kagame e o argelino Abdelaziz Buteflika participam no encontro a portas fechadas, realizado no balneário egípcio de Sharm el-Sheikh e ao qual poderá estar presente o presidente zimbabuense.
"Esta crise tem de ser resolvida logo e acho que existe um argumento muito bom para enviar uma força internacional ao Zimbábue para restabelecer a paz", afirmou o Prêmio Nobel da Paz, o arcebispo anglicano sul-africano Desmond Tutu. Ele expressou sua esperança de que a União Africana (UA) adote um papel de líder na crise do país.