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União Africana recebe Mugabe e ignora apelos internacionais

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postado em 30/06/2008 16:50
SHARM EL-SHEIKH - A União Africana (UA) recebeu nesta segunda-feira (30/06) em sua XI Cúpula, realizada em Sharm El-Sheik, no Egito, o presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, ignorando os apelos da ONU, dos Estados Unidos e da União Européia (UE) para declarar a ilegitimidade de seu regime. Mugabe, que no domingo foi reempossado para seu sexto mandato como presidente após um simulacro de segundo turno de eleição - onde ele era o único candidato - realizado na sexta-feira, foi recebido pelos líderes africanos na sala do Palácio dos Congressos do balneário egípcio. "Os africanos são capazes de decidir por si mesmos. Recebemos Mugabe como um herói", disse à imprensa o presidente do Gabão, Omar Bongo Ondimba, há 41 anos no poder, decano dos dirigentes africanos. "Ele foi eleito, prestou juramento e está aqui conosco. É presidente e não se pode pedir mais. Foram realizadas eleições e acredito que ele saiu vencedor", afirmou Bongo, para quem as opiniões internacionais sobre Mugabe "são muito grosseiras". "Compreendemos os ataques, mas não deveriam agir assim. O que fizeram é um pouco grosseiro na nossa opinião. Eles deveriam ter nos consultado antes, enviar, por exemplo, uma mensagem para a presidência da União para saber o que pensamos", explicou Bongo. A comunidade internacional continuou denunciando a permanência de Mugabe no poder, onde já está há 28 anos, desde que a ex-Rodésia conseguiu a independência da Grã-Bretanha. O comissário europeu de Desenvolvimento, Louis Michel, denunciou a "vitória usurpada" de Mugabe e pediu à UA que busque "uma solução política para esta crise". Um apelo nesse sentido foi feito também pelo primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, pedindo à UA que se pronuncie a respeito da formação de um "novo governo" no Zimbábue. Sanções Os Estados Unidos redigiram um projeto de resolução para o Conselho de Segurança da ONU prevendo sanções contra o Zimbábue, segundo um documento obtido pela AFP nesta segunda-feira. O documento, que será discutido pelos Estados Unidos com seus aliados do Conselho antes da apresentação formal, inclui um embargo ao comércio de armas com o país africano e medidas individuais (proibição de viajar e congelamento de ativos no exterior) contra certas pessoas - não identificadas -, acusadas de atrapalhar o processo democrático zimbabuano. "As sanções não são a melhor ferramenta da diplomacia moderna", alfinetou em Charm El-Sheikh - sem mencionar diretamente os EUA - o comissário de Paz e Segurança da UA, Ramtan Lamamra. Antes disso, a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, havia destacado que a crise não interessa somente à UA, mas sim ao Conselho de Segurança da ONU. Já o governo da Itália chamou para consultas seu embaixador no Zimbábue, com o objetivo de enviar "um sinal político" para o regime do presidente Robert Mugabe, informou nesta segunda-feira a chancelaria italiana. "O ministro das Relações Exteriores Franco Frattini ordenou que seja chamado para consultas a Roma o embaixador em Harare (capital do Zimbábue)", anunciou a chancelaria em um comunicado oficial. Nações Unidas O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou por sua vez através de um comunicado que as eleições no Zimbábue "não refletiram a vontade real do povo zimbabuano nem tiveram um resultado legítimo". No primeiro turno do pleito, realizado no dia 29 de março, o candidato do partido opositor Movimento pela Mudança Democrática (MDC), Morgan Tsvangirai, de 56 anos, venceu por cinco pontos de vantagem sobre Mugabe. Tsvangirai abandonou a corrida eleitoral uma semana antes do segundo turno, para denunciar a repressão praticada contra seus partidários. A violência, segundo o ex-candidato, deixou ao todo 200.000 desabrigados, 10.000 feridos e 90 mortos desde o fim de março. Ban pediu "a ambas as partes" que "negociem uma solução política que detenha a violência e a intimidação", apoiando "os esforços" da UA e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC). Desde o início da cúpula, a UA defendeu uma solução negociada entre Mugabe e Tsvangirai e condenou qualquer tipo de sanção. "A África deve assumir plenamente suas responsabilidades e fazer tudo o que for possível para ajudar as partes no Zimbábue a superar os atuais desafios", afirmou o presidente da Comissão da UA, Jean Ping. A África do Sul, cujo presidente Thabo Mbeki foi encarregado pela SADC de mediar a situação no Zimbábue, também pediu negociações para a formação de um "governo de transição" no país. Nesta segunda-feira, observadores da UA que fiscalizaram a votação no Zimbábue admitiram que o pleito não foi realizado "de acordo com as normas democráticas" da organização.

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