postado em 03/07/2008 07:56
A ex-senadora franco-colombiana Ingrid Betancourt foi libertada nesta quarta-feira após seis anos em poder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. Em entrevista coletiva em Bogotá, Ingrid comentou que a operação de inteligência responsável por sua libertação foi "impecável" e descreveu os detalhes do resgate
"(Agradeço) a Deus primeiro e, em segundo lugar, a todos vocês que me acompanharam em suas orações, que pensaram em mim e me guardaram em seu coração. Aos que logo sentiram compaixão por nós, os seqüestrados, que nos fizeram viver em suas vidas e que rejeitaram a idéia de que a única solução seria esperar"
"A todos vocês, colombianos que acreditaram que estávamos vivos, que de alguma maneira o mundo se inteirava do que estava ocorrendo conosco. Obrigada ao Exército da minha pátria Colômbia, pela sua operação impecável. A operação foi perfeita"
"Eu devo muito aos meios de comunicação - se não fosse por vocês, provavelmente não estaria viva. (Agradeço) aos que cederam espaços de rádio para que tivéssemos a possibilidade de nos comunicar com nossas famílias. Podíamos sonhar e (ter) esperança, porque ouvíamos os nossos familiares, a minha mãe, os meus filhos"
"Hoje, às 5h da manhã, ouvi a minha mãe dizer que ia pegar um avião para a França, que a minha filha Melanie tinha ido à China, ouvi (seu ex-marido) Fabrice dizendo que havia uma foto minha no cume do Montblanc, na França%u2026 Pensei: bom, não acontecerá nada. Dessa vez, não será a minha vez"
"Depois nos fizeram arrumar nossas coisas. Esperamos todo o dia sem saber o quê, e, uma hora antes, o comandante Asprilla me falou que todos íamos subir em um helicóptero, acompanhados de um chefe (da guerrilha). Eu perguntei se nos levariam a (Alfonso) Cano ou a (Mano) Jojoy, mas ele não soube me responder. Disse apenas que era alguém importante e que, provavelmente íriamos para um outro cativeiro, onde ficaríamos melhor. Isso me partiu o coração"
"Nos fizeram cruzar o rio, todos com um guarda da guerrilha armado ao lado. Chegaram os helicópteros e, dele, saíram personagens surreais%u2026 Senhores vestidos com roupas que traziam símbolos que certificavam que eles eram delegados de não sei o quê. Olhava e pensava: será que vão nos colocar de palhaços em um outro novo circo? Eu não quero me prestar a isso. (Os homens) Falaram com os líderes, os comandantes Enrique e César. Olhei-os mais de perto, e eles vestiam camisetas de Che Guevara. Pensei: eles são das Farc, não são médicos"
"Depois, nos disseram que teríamos de subir algemados e isso foi muito humilhante. Quando embarcamos, muito frustrados por nos terem colocado as algemas, não queria falar com aquelas pessoas. Eles queriam nos ajudar com as nossas coisas, e eu não deixava. Estávamos muito chateados%u2026 Quiseram que colocássemos jaquetas brancas porque iríamos a um clima frio"
"Fecharam as portas do helicóptero, e logo vi o comandante que por quatro anos esteve responsável por nos vigiar, que tantas vezes foi cruel e déspota. Ele estava no chão, com os olhos vendados. Não achem que senti felicidade, mas lástima. Mas dei graças a Deus que estava com pessoas que respeitam a vida dos demais mesmo quando são inimigos. Então, o chefe da operação disse ;Somos do Exército Nacional e vocês estão livres;. O helicóptero quase caiu porque todos pulamos, gritamos, choramos. Não podíamos acreditar"
"Este é um orgulho para nós, colombianos. Não há antecedentes históricos de um resgate tão perfeito. Peço a Deus que isto permita a todos os colombianos pensar que a paz é possível"
"Não sei se Cano ou Jojoy sabem o que ocorreu, mas o que posso lhes dizer é que as pessoas que ficaram ali, os guerrilheiros que eram nossos guardas, nós os deixamos vivos e esperamos que continuem assim. Espero que não sejam sujeitos ao julgamento das Farc pelo que aconteceu"