postado em 03/07/2008 13:33
BOGOTÁ - O mundo acompanhou maravilhado durante a semana os resultados de uma ousada operação militar, sem o disparo de um só tiro - o resgate da ex-senadora Ingrid Betancourt, pondo ponto final a um pesadelo de seis anos, além de desferir o mais duro golpe na guerrilha das Farc. Ingrid Betancourt, conhecida pela força de caráter, foi resgatada quarta-feira junto com outros 14 reféns da guerrilha colombiana das Farc, após mais de seis anos de seqüestro, que a transformaram num símbolo deste drama, pelo qual passam pelo menos 3 mil de seus compatriotas.
Vítima da pressão, Betancourt - que completou 46 anos no dia 25 de dezembro passado - havia pedido ao governo colombiano que só tentasse resgatá-la se tivesse garantias de que a operação fosse terminar bem. A ex-refém também criticou a guerrilha em suas mensagens devido ao tratamento desumano reservado a seus prisioneiros. A ex-congressista Consuelo González, liberada em janeiro, lembrou que Ingrid "estava muito fraca, fraquíssima, com problemas de saúde, mas mentalmente permanecia firme" nos acampamentos guerrilheiros, e que ainda presa "debatia muito, com sua veemência característica".
Foi essa veemência que a levou, em meados dos anos 90, a ser a congressista mais votada do partido Liberal, do qual se desligou após denunciar a influência do narcotráfico na política. Ela então fundou o partido verde Oxígeno, pelo qual se candidatou à presidência. Seu seqüestro aconteceu durante a campanha. Filha do ex-ministro da Educação Gabriel Betancourt, que morreu meses depois do seqüestro, e de Yolanda Pulecio, uma ex-rainha da beleza que se dedicou à política e às causas filantrópicas, Ingrid ama o debate.
Estudou no Liceu Francês de Bogotá, onde seus ex-companheiros lembram dela como uma aluna brilhante, ambiciosa, estudiosa, com grande poder de convencimento e idéias de esquerda. Foi morar em Paris para estudar Ciências Políticas e foi aluna do ex-ministro francês Dominique Villepin. Conseguiu a nacionalidade francesa depois de se casar com o diplomata Fabrice Deloye, com quem teve dois filhos, Melanie e Lorenzo, antes de se separar. Ambos tiveram a adolescência marcada pelo seqüestro da mãe.
Betancourt voltou para a Colômbia no início da década de 90, e após uma breve passagem pela burocracia passou a se dedicar à política, meio no qual conheceu seu segundo marido, o publicitário Juan Carlos Lecompte. Outra ex-refém das Farc, Clara Rojas, libertada junto com Consuelo González, admitiu que, apesar de sua grande amizade com Betancourt, tiveram algumas brigas durante o cativeiro, depois de pelo menos cinco tentativas frustradas de fuga.
Rojas, que teve um filho com um guerrilheiro, acompanhava Betancourt no momento do seqüestro, em fevereiro de 2002, perto de San Vicente del Caguán (sudeste). As circunstâncias do seqüestro revelam muito da personalidade da franco-colombiana, a quem as autoridades haviam advertido sobre a atuação das Farc na região. Betancourt, no entanto, decidiu viajar mesmo assim, convencida de que suas posições progressistas eram seu melhor escudo de proteção contra os rebeldes, segundo revelou Rojas, afirmando que num primeiro momento ambas pensaram que o seqüestro seria passageiro.
Betancourt, no entanto, já estava em poder dos guerrilheiros há mais de seis anos, e sua saúde está seriamente debilitada por causa do tempo na selva. Suas mais recentes provas de vida, um vídeo e fotos, divulgados em novembro do ano passado, mostravam Ingrid abatida, muito magra e silenciosa, algemada no meio da selva. Acompanhavam as dramáticas imagens uma carta desesperada da refém para a família: "aqui, vivemos como os mortos".