postado em 05/07/2008 08:37
A tão sonhada liberdade de Ingrid Betancourt teria sido comprada pelo governo colombiano ao preço de US$ 20 milhões ; apenas US$ 5 milhões a menos que a recompensa oferecida pelo governo norte-americano em troca da cabeça do terrorista saudita Osama bin Laden. A versão, desmentida pela própria ex-senadora e pelo Exército da Colômbia, quase ofuscou a visita da ex-refém a Paris e alimentou uma teoria conspiratória segundo a qual a Operação Xeque foi uma farsa para enganar a opinião pública mundial.
A informação da suposta transação foi divulgada pela Rádio Suíça Romanda (RSR), que citou ;uma fonte ligada aos acontecimentos, confiável e testada em reiteradas ocasiões nos últimos anos;. A emissora estatal integra o grupo de comunicação mais respeitado da Suíça.;Os 15 reféns foram comprados, na realidade, a preço forte. Depois disso toda a operação foi uma encenação;, garantiu a fonte à RSR, que citou os Estados Unidos como a ;origem da transação;. Ainda segundo a emissora, a mulher de um dos carcereiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) intermediou a negociação.
Em entrevista ao jornal El Tiempo, de Bogotá, o general Freddy Padilla de León, comandante das forças militares da Colômbia, comparou a versão da compra dos 15 reféns a ;um afogado se esperneando;. Ele atribuiu a acusação à parte da guerra política promovida pelas Farc para desmoralizar o presidente Álvaro Uribe ante a opinião pública. ;Como comandante das forças militares, nego que o governo da Colômbia tenha pago um só centavo por essa operação;, assegurou Freddy. A própria Ingrid Betancourt descartou ontem ter sido moeda de troca. ;Com o que presenciei durante a operação, francamente não creio que tenham me enganado, não creio que tenha sido uma encenação;, declarou, durante entrevista coletiva no Palácio do Eliseu. ;Havia tensão, o estresse era grande entre nós, resistimos, não queríamos subir no helicóptero;, lembrou ela.
No entanto, Carlos Nasi Lignarolo, especialista em conflito da Colômbia pela Universidad de Los Andes, alerta que não se pode aceitar nem descartar a versão. Ele afirmou ao Correio que o hermetismo das fontes tem sido quase total. ;As forças armadas não revelariam se a libertação de Ingrid foi produto de uma infiltração à guerrilha e de uma sofisticada operação de inteligência, pois colocariam em risco a vida dos militares infiltrados;, explicou. ;Por outro lado, o presidente Uribe não admitiria ter pago milhões de dólares pelos reféns, pois sua popularidade se mantém graças à posição de linha-dura frente à guerrilha;, disse. Lignarolo aposta que Uribe não precisaria recorrer a artimanhas complexas para manter seu prestígio. Para o analista, caso a negociação tenha sido realizada, provavelmente envolveu um comandante guerrilheiro ;traidor;, que colaborou em troca de dinheiro.
Vídeo
O governo da Colômbia divulgou ontem imagens da operação de resgate de Ingrid Betancourt. O vídeo começa com um suposto jornalista interpelando ;César;, guerrilheiro responsável pela guarda dos 15 seqüestrados. Sorridente, o rebelde responde: ;Não, há uma norma para que não falemos;. O repórter insiste, chamando-o de ;comandante;, mas o guerrilheiro se nega a falar. Pouco depois os reféns aparecem segurando pertences. Em fila, caminham até o helicóptero com as mãos amarradas ; as imagens exibem Ingrid Betancourt e outros reféns de punhos atados.
Um grupo com mais de 20 guerrilheiros das Farc observa o embarque a distância. Pouco depois, dentro do helicóptero em vôo, alguém diz: ;Vocês estão livres. Já passou;. Os ex-seqüestrados se abraçam. ;Dez anos esperando! Dez anos esperando pelo Exército!”, grita o cabo William Pérez, seqüestrado desde 1998. Ingrid chora, sorri ao mesmo tempo e abraça o companheiro de cativeiro, que foi seu enfermeiro. O ministro da Defesa da Colômbia, Juan Manuel Santos, afirmou que as Farc estão ;debilitadas; e enfrentam ;sérios problemas de organização e comunicação;. Também negou que as informações de que os agentes infiltrados na guerrilha imitaram a voz do líder Mono Jojoy para enganar os rebeldes.