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Pelo menos 700 reféns continuam em poder das Farc

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postado em 06/07/2008 09:24
Apartir das 17h, quando a escuridão tomava conta da floresta colombiana, eles travavam uma batalha interna de sentimentos. A saudade, a aflição e a incerteza se somavam ao medo provocado pelo barulho que vinha da selva. Ex-reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) contaram o horror que passaram sob a mira de armas 24 horas por dia, alguns deles acorrentados, tratados como animais e submetidos a uma tortura psicológica sem fim. Praticamente esquecidos em um mundo particular, enquanto aguardavam um milagre, na forma de uma libertação unilateral ou do pagamento de resgate. Pelo menos 700 pessoas ainda estão em poder do grupo, das quais 25 têm peso político e podem ser usadas como moeda de troca por alguns dos 1.605 guerrilheiros presos em penitenciárias do país. O ex-congressista Luis Eladio Pérez, de 55 anos, se despediu da ex-senadora Ingrid Betancourt em 4 de fevereiro passado, 23 dias antes de ganhar a liberdade (leia a entrevista nesta página). Sua vida mudou em 10 de junho de 2001, após ser capturado pelos rebeldes no departamento (estado) de Nariño. Por seis anos, sete meses e 18 dias, ele foi forçado a abandonar a mulher, Angela, os filhos Sérgio e Carolina, e a se readaptar a uma rotina desesperadora em um dos acampamentos das Farc. ;Por cinco anos, fomos acorrentados 24 horas por dia, algumas vezes a árvores, outras vezes aos próprios reféns;, disse ao Correio o homem que se tornou uma espécie de confidente de Ingrid no cativeiro. Nos últimos oito meses de cárcere, Pérez foi amarrado a uma árvore com Tom Howes, um dos três americanos soltos na quarta-feira. ;Éramos tratados como selvagens, como animais;, comentou. A rotina no acampamento começava entre as 4h30 e as 5h, quando os guerrilheiros ordenavam que os seqüestrados se levantassem. ;Tiravam nossas correntes e nos davam meia hora para que fizéssemos nossas necessidades. Depois, éramos acorrentados novamente;, lembra. Tudo sob a mira de um fuzil ou metralhadora. Pela manhã, seqüestrados e rebeldes compartilhavam um rádio a pilha, por meio do qual os reféns ouviam suas famílias e se atualizavam com o noticiário. Esse era o único contato com o mundo externo. Os guerrilheiros transferiam os seqüestrados com freqüência, para despistar o Exército. ;Por vários meses caminhei sem botas. Você pode imaginar o tipo de enfermidade a que estávamos submetidos;, disse Luis Eladio Pérez. Questionado se testemunhou violência no cativeiro, o ex-senador foi enfático: ;Existe maior violência do que estar como um animal acorrentado, do que ter um guerrilheiro o insultando? Sofri alterações emocionais muito fortes;, comentou. Segundo ele, muitos reféns não conheciam um Ipod, jamais viram DVD e sequer sabiam que um celular tira fotos. Pérez precisou de apoio psicológico para se readaptar à civilização. ;Felizmente, tive a compreensão e o carinho de minha família.; Livros e xadrez A vida do economista colombiano Aníbal Rodríguez, de 52 anos, sofreu uma pausa em 26 de julho de 2001. Morador de Neiva, capital do departamento de Huila (centro-sul), ele foi vítima de um seqüestro extorsivo, quando as Farc invadiram o edifício Miraflores. No cativeiro, ele acordava às 5h, quando era servido o café-da-manhã, e passava o início do dia entretido com a leitura. Às 9h, os seqüestrados se banhavam em rios próximos ; as Farc erguem acampamentos perto de mananciais de água. ;O almoço era servido às 11h30 e passávamos a tarde jogando xadrez ou cartas, ou fazendo artesanato em madeira. Às 18h, éramos obrigados a ir para a cama;, lembra Rodríguez. A noite era imersa na escuridão. Por razões de segurança o uso de lampiões estava proibido. ;Dormíamos em tendas de plástico, sobre camas feitas com troncos ;, relatou. ;Os guardas se colocavam armados ao nosso lado à noite.; Sob essas condições os dias são compridos. ;A rotina é desesperadora.; Assim como Luis Eladio Pérez e Aníbal Rodríguez, a ex-senadora Ingrid Betancourt levará para sempre as recordações do inferno. Memórias de um tempo em que a liberdade era apenas uma centelha de esperança.

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