Mundo

Uribe e Chávez juntos para fazer as pazes

Presidente venezuelano convida o vizinho colombiano a superar as divergências causadas pelo combate às Farc. Eles se reúnem hoje

postado em 11/07/2008 07:54
Depois de meses de crise diplomática e troca de farpas com o vizinho venezuelano, Hugo Chávez, o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, tem um encontro hoje com o antigo desafeto na cidade de Coro, no estado Falcón, noroeste da Venezuela. O colombiano não deve passar mais de sete horas no país. Além de discutirem comércio bilateral, os governantes prometem dar por encerradas as desavenças causadas pelo cerco de Uribe à guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Segundo o presidente anfitrião, que no auge da crise chegou a falar em guerra, ambas são ;pátrias irmãs;. Uribe e Chávez se reúnem com foco especial em projetos de infra-estrutura e de cooperação fronteiriça. Esse será o primeiro encontro privado entre os dois desde o bombardeio colombiano que matou o porta-voz das Farc, Raúl Reyes, em 1º de março, num acampamento dos rebeldes em território equatoriano. A atitude levou a Venezuela a sair em defesa da soberania equatoriana e despachar tropas para a fronteira com a Colômbia. Depois de, nos últimos meses, ter se referido a Uribe como ;marionete; de Washington, ;mentiroso;, e de tê-lo acusado de manter relações com paramilitares, Chávez surpreendeu a todos com o convite ao chefe de Estado da Colômbia. ;Eu convido o presidente para dar-lhe a mão, para conversar e buscar uma integração, respeitando as particularidades, pois a Colômbia é uma pátria irmã;, declarou. Em comunicado, o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou que o país tem o objetivo de recuperar um diálogo ;respeitoso e construtivo; com o governo colombiano. Por sua vez, Uribe disse que espera ;estreitar os vínculos com o povo irmão da Venezuela; e ;dar um impulso na agenda;. No encontro serão tratados o restabelecimento da cooperação nos mais de 2 mil km de fronteira comum, onde o narcotráfico, a presença de guerrilha e o contrabando exigem maior troca de informação. Os presidentes também visitarão a refinaria de Paranaguá e devem assinar um compromisso para a construção conjunta de uma ferrovia que cortará os dois países, segundo fontes diplomáticas. Chávez criticou ontem o Partido Comunista da Venezuela ; aliado de seu governo ;, que programou um protesto contra a visita de Uribe. No entanto, ele não proibiu a passeata. O mandatário venezuelano tem viagem marcada para a Rússia em 22 de julho para a obtenção de um pacote amplo de armamentos, que inclui mísseis antiaéreos, mísseis ar-terra, tanques T-95 e submarinos da classe Amur. A Venezuela já comprou várias armas russas, entre elas aviões caça Sukhoi e 100 mil fuzis Kalashnikov. Eleito pela primeira vez em 1999, Chávez enfrenta um momento complicado no governo. A popularidade dele, que já passou dos 80%, é hoje de 51,8%. A inflação alta e as derrotas que sofreu na política externa forçam uma mudança de rumo e um tom mais amigável com os vizinhos. O venezuelano foi afastado por Uribe da mediação com as Farc em 2007, por conversar diretamente com a cúpula militar da Colômbia sem a permissão do presidente. Sua intervenção para libertar a ex-senadora Ingrid Betancourt não foi necessária. Para piorar, Bogotá revelou documentos comprometedores no computador de Reyes que apontam para uma relação suspeita entre Chávez e dirigentes da guerrilha. Para José Flávio Sombra Saraiva, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), apesar de Uribe já ter expressado que não concorda com o entendimento da Venezuela com as Farc, ele precisa, por motivos eleitorais, entre outros, da aliança com Chávez. De acordo com o professor, a Colômbia está isolada na região. ;O momento é altamente positivo para tentar parcerias devido à legitimidade política e apoio popular que Uribe está recebendo da população colombiana, especialmente após o resgate de Ingrid Betancourt. Por outro lado, Chávez não tem mais o vigor de um ano atrás e é alvo de muitas críticas. Só o petróleo não constrói um país industrializado;, explicou Saraiva. RETORNO ADIADO A ex-refém das Farc Ingrid Betancourt ainda não pensa em voltar para a Colômbia por medo de sofrer um novo ataque. ;Tenho de ser prudente. A guerrilha pode querer se vingar;, afirmou a franco-colombiana em entrevista ao canal de TV norte-americano NBC. ;Minha família passou por tempos horríveis e não tenho o direito de destruir nossos sonhos agora que, por fim, podemos estar juntos.; Libertada pelo Exército colombiano no último dia 2, junto a outros 14 reféns das Farc, a ex-senadora disse ser colombiana do fundo do coração, amar seu país e querer servi-lo. Ingrid prometeu colaborar para a libertação das centenas de pessoas que ainda estão em poder da guerrilha. ;A única coisa que me importa agora é ajudar os que estão sofrendo na selva.;

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação