postado em 14/07/2008 17:30
ISTAMBUL - A procuradoria-geral de Istambul anunciou nesta segunda-feira (14/07) o envio a um tribunal correcional de uma ata de acusação contra 86 suspeitos de envolvimento com a organização "Ergenekon", acusada de querer derrubar o governo em 2007.
O documento, de 2.455 páginas, afirma que os acusados criaram uma "organização terrorista armada" e tentaram empregar "a força e a violência para derrubar o governo ou impedir que cumprisse suas funções".
Várias personalidades conhecidas - ex-militares, jornalistas, empresários - foram detidas como parte desse caso que os comentaristas analisam como um ajuste de contas entre o governo islamita conservador e os meios laicos, kemalistas - nome do general fundador da Turquia moderna.
Kemal Atatürk, 1919-23, praticamente tirou o país da era medieval para os tempos atuais, fazendo com que se tornasse a primeira república do mundo do Islã. Autoritário e centralizador, entendeu que sem instrução das massas, sem estímulo ao conhecimento, sem a emancipação das mulheres, não haveria a oxigenação necessária capaz de fazer da Turquia uma nação ocidentalizada.
O seu nome ficou gravado como um dos modernizadores autoritários do século XX. O Kemalismo, a ideologia da república então recém-proclamada, varreu do cenário social os atos de submissão pública, os suplícios físicos (a empalação foi proibida), e a idéia de que as leis deviam inspirar-se diretamente no Alcorão. Decretou a mais profunda reforma socio-política ocorrida até então na Ásia Menor, iniciativa depois imitada por Abdel Gamal Nasser no Egito, em 1952 e por Karim Qassim no Iraque, a partir de 1956, líderes políticos que também trataram de secularizar as sociedades muçulmanas em que viviam.
Vários analistas acusam o governo do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), que está sob a ameaça de um julgamento na Corte constitucional, de querer utilizar o caso "Ergenekon" para pressionar seus adversários leigos.
Quarenta e oito dos 86 acusados estão detidos. A procuradoria-geral de Istambul investiga este caso desde o descobrimento, em junho de 2007, de explosivos numa casa da parte asiática da cidade.