postado em 15/07/2008 12:02
CARTUM - As Nações Unidas começaram nesta terça-feira (15/07) a retirar funcionários não essenciais de Darfur, enquanto militantes islâmicos manifestaram em Cartum seu apoio ao presidente Omar al-Bashir, acusado de crimes contra a humanidade e genocídio pela Corte Penal Internacional (CPI). "O processo de evacuação está em andamento", declarou um representante da ONU no dia seguinte ao pedido do procurador da CPI, Luis Moreno-Campo, de lançar uma ordem de prisão internacional contra o presidente sudanês.
A força conjunta ONU-União Africana (UA) em Darfur (Minuad) anunciou a intenção de transferir à Etiópia ou a Uganda funcionários não essenciais, apesar de as autoridades sudanesas terem garantido que farão o possível para proteger soldados e trabalhadores humanitários. Segundo testemunhas, dois ônibus deixaram o quartel-general da Minuad em Al-Facher, capital da parte norte de Darfur, com destino a Entebbe, em Uganda.
Dirigentes sudaneses e ocidentais avisaram que a decisão do CPI, considerada por Cartum como uma violação da soberania nacional, podia provocar represálias contra as embaixadas ocidentais e as missões de paz da ONU em Darfur e no sul do país. A ONU garantiu, no entanto, que suas missões continuam. "Assumimos o compromisso de cumprir com nossas obrigações de manutenção da paz no Sudão. Queremos, porém, ressaltar que a segurança dos funcionários da ONU e das ONG é primordial", declarou Brian Kelly, porta-voz da ONU.
"Não se trata de uma evacuação total. Vamos reposicionar temporariamente funcionários não essenciais", havia explicado Joséphine Guerrero, porta-voz da Minuad em Darfur, antes do início do processo de retirada. De acordo com responsáveis em Al-Facher, cerca de 200 funcionários deviam decolar nesta terça-feira rumo a Entebbe e Addis Abeba. O Sudão protestou contra esta retirada. "É lamentável. Eles se retiram do país apesar das nossas repetidas garantias de proteção", declarou o porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Ali al-Sadiq.
A Minuad vinculou estas retiradas à emboscada de terça-feira passada, em que oito soldados foram mortos e cerca de 20 foram feridos por milicianos. Além disso, os protestos convocados pelo poder na capital sudanesa tinham mobilizado apenas algumas centenas de partidários do presidente Bashir na tarde desta terça-feira.
Um grupo liderado por um movimento de estudantes islâmicos andou da universidade de Cartum até os escritórios do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a embaixada da Grã-Bretanha gritando: "Somos o Exército de Maomé e protegeremos nosso presidente com nosso sangue". Cerca de 400 membros de tribos do Congresso Nacional, o partido do governo, organizaram outra manifestação diante do palácio presidencial.
Trata-se da primeira vez que um presidente em exercício é acusado pela CPI de genocídio e crimes contra a humanidade. O conflito na província de Darfur deixou 300 mil mortos segundo a ONU, e 10 mil mortos segundo Cartum.