postado em 16/07/2008 14:23
PEQUIM - Como muitas prostitutas pequinesas, "Kelly" pensava que ia ficar muito ocupada durante os Jogos Olímpicos em agosto, com a chegada de dezenas de milhares de visitantes, mas a polícia está disposta a não permitir que a florescente indústria do sexo no país macule o evento. "De repente, a polícia se tornou mais vigilante. Devemos ter muito cuidado", assegura esta moça de 23 anos de aspecto frágil.
A polícia fechou vários bares e alguns dos mais conhecidos pontos de prostituição. Segundo Kelly, que vem da vizinha região de Hebei e não deseja dar seu verdadeiro nome, muitas de suas companheiras foram detidas e enviadas às províncias de origem. "Devo ter cuidado. Se for expulsa de Pequim, não poderei voltar porque a polícia estabelecerá controles mais rígidos", explicou a jovem.
O endurecimento em relação à prostituição faz parte de uma ação mais ampla para livrar a capital chinesa de tudo o que o governo chama de escória durante os Jogos Olímpicos, o que também provocou o recolhimento de muitos mendigos e ambulantes. Os cada vez mais freqüentes e mais estritos, os controles dos vistos de estrangeiros, realizados em principio para evitar ameaças na segurança durante os jogos, livrou Pequim de um bom número de número de prostitutas chegadas da Rússia ou Mongólia, segundo Kelly.
"Estamos fechados para a inspeção contra incêndio. Volte depois dos Jogos Olímpicos", disse um empregado do bar Maggie, um estabelecimento da noite pequinesa situado na zona central, onde se cruza normalmente com muitas prostitutas de origem mongol. Perseguida na época de Mao, a prostituição é um negócio próspero na China, com o trabalho de 10 milhões de mulheres, numa atividade exercida livremente em bares, casas de massagens, 'karaokes' ou nas barbearias de Pequim, nas quais ninguém corta o cabelo.
É comum aos homens que viajam a sós à China receberem uma chamada, poucos minutos depois de entrar no seu hotel, para lhes oferecer a companhia de uma jovem. Periodicamente se realizam operações contra a prostituição, mas nunca em tão grande escala como agora, segundo observadores. "A cidade está passando por uma intensa limpeza", afirmou um internauta no site Internationalsexguide.info, que se apresenta como "o maior foro sobre turismo sexual". "Todos os lugares mais famosos estão na mira. Muitos deles foram fechados", diz o site. No entanto, os hotéis mais discretos, poderiam substituí-los por "salas de massagens".
Esta repressão não faz senão adiar um problema, garante Bernhard Schwartlander, representante na China da campanha de combate à Aids da ONU. "Quando se esconde alguma coisa, fica difícil fazer controles. Estimular o uso de preservativos se torna aleatório, para não falar do risco da violência machista", lamentou o médico. Não há problema, segundo Otak, uma prostituta mongol: "É ruim agora, mas não durará muito", assinalou.