postado em 24/07/2008 10:45
TRÍPOLI - A Líbia começou nesta quinta-feira (24/07) a aplicar suas ameaças contra a Suíça, em represália pela breve prisão de um dos filhos do líder líbio Muammar Kadhafi em Genebra, e anunciou que sua frota vai interromper o fornecimento de petróleo a esse país. A Companhia Nacional Líbia de Transporte Marítimo anunciou nesta quinta-feira que vai interromper seu fornecimento de petróleo à Suíça em represália pela breve prisão de um dos filhos do dirigente Muamar Kadhafi, Hannibal, na semana passada, em Genebra.
Hannibal Kadhafi é oficialmente conselheiro da Companhia Nacional Líbia de Transporte Marítimo, que monopoliza quase totalente os produtos energéticos da Líbia, e tem uma frota de dez navios. Em um comunicado conjunto, as companhias nacionais de transporte marítimo e de portos indicaram que também proibirão, a partir de agora, a entrada e a descarga de barcos de bandeira suíça nos portos líbios.
No comunicado a Suíça é ameaçada de novas medidas se não arquivar nas próximas horas o caso contra Hannibal Kadhafi e não apresentar suas desculpas oficiais. Na véspera, dezenas de pessoas se manifestaram diante da embaixada da Suíça em Trípoli para denunciar os 'maus-tratos' sofridos pelo filho de Kadhafi durante sua prisão no último dia 15 em julho, em Genebra.
Cerca de 200 membros dos comitês revolucionários, a base do regime do coronel Khadafi, entregaram ao embaixador suíço um comunicado ameaçando seu país com represálias se não forem apresentadas desculpas oficiais à Líbia. "Em nenhum momento quisemos ferir os sentimentos do povo líbio", declarou o embaixador suíço Daniel Von Muralt, em uma declaração à imprensa, acrescentando que uma delegaçã suíça irá a Trípoli para tentar de acalmar a tensão diplomática.
Hannibal Kadhafi, o quarto filho do dirigente líbio, e sua mulher foram presos no hotel de luxo Presidente Wilson, em Genebra, depois da denúncia de duas arrumadeiras que os acusavam de tê-las agredido. Segundo o jornal suíço Le Matin, Hannibal foi indiciado por lesões corporais simples, ameaças e coação. Dois seguranças que se opuseram às forças da ordem também foram detidos.
Paul Gully-Hart, o advogado do casal, informou à agência de notícias suíça ATS que 200.000 francos suíços foram pagos de fiança para a libertação de Hannibal Kadafi e 300.000 francos por sua esposa, acusada de fatos mais graves. Os analistas do setor petróleiro na Suíça, no entanto, deram pouca importância ao impacto da medida efetivada nesta quinta ao considerar que a Suíça dispõe de reservas suficientes e outras fontes de abastecimento.
Mas a retirada dos depósitos líbios nos bancos suíços, a ruptura das relações diplomáticas e a saída das sociedades suíças da Líbia estão sendo avaliadas, segundo funcionários líbios. Também na véspera, os escritórios do grupo de alimentos Nestlé e do grupo de engenharia ABB foram fechados e seus responsáveis interrogados pela polícia libanesa. O representante da Nestlé na Líbia, um egípicio que o único funcionário do grupo suíço nesse país, foi liberado horas depois, mas um funcionário suíço daABB foi detido pelas autoridades líbias, indicou a empresa em um comunicado.
Enquanto a imprensa líbia continua ignorando o problema, Trípoli empreendeu desde 17 de julho "medidas de represália preocupantes" em relação a cidadãos suíços e contra interesses da Confederação suíça na Líbia, segundo o ministério das Relações Exteriores. As ligações aéreas entre os dois países foram reduzidas, as empresas suíças na Líbia receberam ordem de fechamento e as autoridades líbias suspenderam a emissão de vistos aos suíços.