postado em 24/07/2008 17:51
BUENOS AIRES - O ex-comandante Luciano Menéndez, de 81 anos, foi condenado nesta quinta-feira (24/07) à prisão perpétua pela justiça argentina por crimes cometidos em "La Perla", um dos três maiores campos clandestinos de detenção da última ditadura (1976/83). O tribunal da província de Córdoba (centro) decidiu também que o ex-general deve cumprir sua condenação em uma unidade carcerária, não em sua casa - como aconteceria, por ter mais de 70 anos.
A condenação de Menéndez, também conhecido como "Cachorro" ou "a Hiena de La Perla", foi saudada com gritos e lágrimas por centenas de manifestantes que aguardavam nas portas do tribunal, levando retratos de dezenas de detidos desaparecidos no centro de detenção ilegal.
Menéndez havia sido acusado em 1994 pela justiça de Roma pelo desaparecimento de cidadãos italianos na Argentina e acusado de genocídio pela justiça espanhola. "Chegou a sua hora", gritou um familiar de uma das vítimas durante a audiência realizada em meio a severas medidas de segurança; várias dezenas de policiais estiveram posicionados nos arredores do tribunal de Córdoba (700 km ao norte).
Menéndez esteve sentado no banco dos réus junto com outros sete militares, como parte de um processo por assassinatos, privação ilegítima da liberdade e torturas cometidas em quatro pessoas.
Entre 1975 e 1979, Menéndez foi chefe do Terceiro Corpo do Exército, com jurisdição sobre províncias do centro e do noroeste do país, uma das regiões onde recrudesceu o terrorismo de Estado, e que tem em aberto centenas de causas por violações aos direitos humanos.
Em 1988 havia sido processado por casos de homicídio e torturas, quatro deles seguidos de morte e quatro roubos de bebês, mas foi beneficiado em 1990 por um indulto do ex-presidente Carlos Menem (1989-99).
No julgamento desta quinta-feira, os acusados responderam pelo seqüestro em novembro de 1977 dos militantes políticos Humberto Brandalisis, Carlos Lajas, Raúl Cardozo e Ilda Flora Palacios. Os quatro, vistos em "La Perla", foram logo assassinados a sangue frio em 15 de dezembro de 1977, numa tentativa dos militares de simular um confronto, segundo depoimentos de sobreviventes.
"La Perla", a oeste de Córdoba, foi considerado um dos maiores centros clandestinos de tortura e onde funciona agora um Museu da Memória. Brandalisis, Lajas e Cardozo continuam desaparecidos enquanto o corpo de Palacios pôde ser identificado numa fossa comum e entregue em 2004 a suas filhas Soledad e Valeria.
Segundo o livro "Nunca Mais", que copilou depoimentos e foi base do histórico julgamento das Juntas Militares em 1985, Menéndez supervisionou pessoalmente torturas e fuzilamentos de presos políticos.