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Chávez quer nacionalizar banco de grupo espanhol

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postado em 01/08/2008 09:50
A famosa frase ;Por qué no te callas?; do rei da Espanha, Juan Carlos, ainda parece estar travada na garganta do presidente venezuelano, Hugo Chávez. Seis dias depois de trocar gestos afetuosos com o monarca, na cidade de Palma de Mallorca, o líder sul-americano apareceu em rede nacional de TV para avisar que pretende nacionalizar o Banco da Venezuela, filial do grupo espanhol Santander. Durante o anúncio, Chávez se antecipou à polêmica de sua decisão e previu o início de uma ;guerra midiática; contra ele. ;Não faltarão os jornalistas na Espanha que vão dizer que Chávez atenta contra a Espanha para danificar as relações entre os países;, declarou. E ele estava certo: a notícia da nacionalização do banco repercutiu na imprensa espanhola, e os sites dos jornais El Mundo e El País estamparam o assunto como sua principal manchete, na noite de ontem. Em seu discurso na TV, Chávez revelou que o banqueiro venezuelano Victor Vargas (proprietário de um grande banco regional) pediu autorização legal para adquirir o Banco da Venezuela. ;Eu, como chefe de Estado, digo ;não;;, explicou. ;O governo quer recuperá-lo para colocá-lo a serviço do povo;, prosseguiu. ;Vamos nacionalizar o Banco da Venezuela.; A retórica se apóia nos próprios números: são 3 milhões de clientes, 300 agências, 600 pontos com caixas eletrônicos, lucro de R$ 270 milhões em 2007, com alta de 12% sobre o mesmo período do ano passado. Nos últimos dois meses, a instituição abriu os cofres para a entrada de 109 milhões de euros (cerca de R$ 267 milhões) em créditos. ;Eu disse ao Santander: agora vendam-no ao Estado venezuelano. Então, agora os donos dizem ;não, não queremos vendê-lo;. Eu disse que não, que o compraria, e perguntei quanto valia;, contou Chávez. O presidente não perdeu tempo e ;cutucou; os espanhóis. ;Há algo obscuro aqui, eles estavam desesperados para vender o banco, inclusive tratando de me presionar. Eu não aceito pressões;, acrescentou, garantindo que convidou os proprietários a ;negociar;. O impacto da provável estatização na economia venezuelana ainda é incerto. Em entrevista ao Correio, o economista Julio Corredor, professor de Planejamento da Universidad Central de Venezuela, afirmou que o Estado terá de fornecer condições para sanear e tornar produtiva a administração do banco. ;Caso contrário, a instituição pode ter o mesmo destino de empresas que não tiveram resultados econômicos esperados;, alertou. ;O que sei é que o presidente deixou claro, de modo categórico, que o grupo Santander ofereceu a venda do banco a um empresário venezuelano;, acrescentou. Por esse motivo, Corredor não acredita na deterioração das relações entre Espanha e Venezuela. O especialista também descarta uma imediata onda de nacionalizações no país. ;Por enquanto, não há sinais disso;, disse. Ele admite que o mercado venezuelano já colocou o tema no centro das análises, para estudar o impacto da aquisição do banco. CHEGA AO FIM A LEI HABILITANTE Expirou o prazo de vigência da chamada Lei Habilitante, que permitiu ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, governar por decreto. Apesar do fim da lei , que entrou em vigor em janeiro do ano passado, Chávez não deve ter problemas para aprovar outros projetos de seu interesse, pois tem maioria na Assembléia Nacional. Além de tomar decisões sem a necessidade de consultar os parlamentares, a lei dava ao chefe de Estado vizinho ; que defende reeleições presidenciais ilimitadas ; poderes plenos de transformação das instituições do Estado nas áreas econômica, social, financeira, tributária, de segurança e de defesa, entre outras.

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