postado em 06/08/2008 08:43
O Japão deve muito de sua cultura à China. Na dinastia Tang (602-664 d.C.), houve uma renovação do budismo, quando, por ordem do imperador, o monge Hsuan Tsang, cruzou o deserto de Gobi até a Índia, onde reuniu e pesquisou os sutras. Ele retornou 17 anos depois com grandes volumes de textos, que traduziu para o chinês. O imperador do Japão se interessou sobre os aspectos éticos e morais da religião e enviou estudiosos a atual cidade de Xian, sede da corte, pedindo missionários.
No século XIII, Kublai Khan (1215;1294), o quinto sucessor do império mongol, instalou-se em Pequim, depois de aniquilar a dinastia Sung e de dominar toda a China, estendendo seu império até a península coreana. Incomodado com as freqüentes incursões de piratas nipônicos, ele enviou mensageiros ao arquipélago japonês exigindo que lhe prestassem tributo. Em resposta, o xogum (ditador militar) Hôjô Tokimune (1251;1284) decapitou seis enviados.
Em retaliação, Khublai, reuniu uma frota de 900 navios e 23 mil homens em 1274. 0 exército desembarcou na Baía de Hakata, província de Fukuoka, Ilha de Kyushu, e, usando arqueiros e bombas primitivas, conseguiu formar uma cabeça de ponte, repelindo os samurais, mas um forte tufão causou a destruição de boa parte da esquadra. Para não ficarem isolados em território inimigo, os mongóis retornaram aos barcos e tentaram retornar ao território chinês. Em barcos leves e ágeis, os japoneses destruíram a maior parte dos navios invasores. Começou então uma história de rivalidade entre as duas nações.
Em 1281, Khublai reuniu uma força de 140 mil homens, dividida em duas forças, de 40 mil homens e 100 mil homens, embarcada em 3.500 navios. O Japão havia se preparado, fortificando a baía Hakata com uma muralha e reunira 40 mil guerreiros. O ataque sofreu um percalço logo no início. O grupamento menor chegou antes e teve de enfrentar, durante 50 dias, os samurais fortificados. Quando a segunda frota chegou, um novo tufão dispersou os barcos mongóis. Surgiu aí o mito do kamikaze, o vento divino que protege o arquipélago.
Invasões japonesas
Os dois impérios voltaram a se enfrentar entre 1592 e 1598. O xogum Toyotomi Hideyoshi comandou a invasão da Coréia, então tributária da China. Ele pretendia dominar toda a Ásia, inclusive a Índia. Obteve inúmeras vitórias em terra, mas sua esquadra não estava a altura da tarefa. Para não morrer de inanição, os nipônicos se retiraram em 1593. Retornaram em 1594 para sofrer uma derrota naval definitiva em 1598. O arquipélago, em função do fracasso, iniciou um período de semi-isolamento, que começa em 1630 e vai até 1853, quando navios norte-americanos comandados pelo comodoro Matthew Perry mostraram a superioridade tecnológica do Ocidente. O país decide se modernizar e juntar forças em torno do imperador.
Na China, ocorrera o movimento inverso. O país perdera força militar e econômica. Uma dinastia invasora, os Qing, de origem manshu, sucedera os imperadores Ming, que levaram o país ao auge. Para ganhar vantagens comerciais, mercadores europeus e norte-americanos introduziram o vício do ópio. O império tentou reagir, proibindo a importação do entorpecente em 1839. A Grã-Bretanha saiu em defesa de seus mercadores e não teve dificuldades de vencer os obsoletos exército e marinha chineses.
Derrotada, em 1842, a China cede o território de Hong Kong à Inglaterra. Começava um processo de espoliação do país. Inúmeras concessões foram entregues a países estrangeiros. Em 1856, explodiu uma segunda guerra. Os britânicos, apoiados por franceses e russos, invadiram Pequim e queimaram o Palácio de Verão. Os japoneses percebem a fragilidade do velho rival e, em 1894, invadiram a Coréia, que ficou sob sua esfera de influência (em 1905 passou a ser parte do Império do Japão). Conquistaram Taiwan e privilégios comerciais no país derrotado.
O Japão também investiu contra os Russos em 1905 e contra os alemães durante a Primeira Guerra Mundial, conquistando as concessões obtidas por esses países. A partir de 1931, iniciaram uma guerra não-declarada com a República da China, fundada em 1910. Em 1932, Tóquio cria um Estado fantoche na Manchúria, o Manchukuo, governado pelo último imperador chinês, Aisin-Gioro Pu-i. Foi o primeiro passo de uma campanha militar que, entre 1938 e 1945, colocaria 20% do território chinês sob controle nipônico.
Os japoneses cometeram inúmeras atrocidades nesse período. Apenas em Nanquim executaram 300 mil pessoas, a maioria civis. Também testaram armas químicas e biológicas em prisioneiros. Estima-se que mais de 20 milhões de chineses morreram. Em 1949, as forças comunistas de Mao Tse-tung entraram em Pequim, depois de derrotarem os nacionalistas de Chiang Kai-shek, que se entrincheiraram em Taiwan. Surgia a República Popular da China, socialista, que logo se consolidaria militar e politicamente.
Derrotado, depois de servir de alvo para as duas únicas bombas atômicas empregadas num conflito armado, o Japão perdeu influência. Transformou-se numa potência econômica na década de 1960, mas mantinha suas ambições militares sob controle. A partir da abertura promovida por Deng Xiaoping no início da década de 1980, as empresas japonesas passam a se interessar pela China, transformando-se nas maiores investidoras.
Essa relação privilegiada mudou com a chegada de Junichiro Koizumi, um ultranacionalista, ao poder em 2001. Como um ato simbólico, passou a freqüentar as cerimônias do Santuário de Yasukuni, onde são homenageados todos os que tombaram em defesa do Japão, inclusive 12 generais condenados como criminosos de guerra por seus atos na Coréia e na China, o que despertou fortes ressentimentos nos dois países agredidos. Além disso, manifestou-se várias vezes a favor da independência de fato de Taiwan, o que é um anátema para Pequim. O atual primeiro-ministro do Japão, Yasuo Fukuda, que assumiu em setembro de 2007, conseguiu desarmar os espíritos e estabelecer um quadro de cooperação entre as três nações, mas teve de protestar diante da agressão sofrida pelos dois repórteres japoneses.