postado em 06/08/2008 09:56
PARIS - O ministério francês das Relações Exteriores negou nesta quarta-feira (06/08) as "acusações inaceitáveis" de Ruanda sobre a suposta participação da França no genocídio de 1994, mas enfatizou querer "construir uma nova relação" com Kigali. No informe divulgado pelas autoridades ruandesas "há acusações inaceitáveis contra dirigentes políticos e militares franceses", declarou um porta-voz do ministério, Romain Nadal, precisando que o documento ainda não foi entregue por canais oficiais.
Ruanda acusou nesta terça-feira a França de ter participado na execução do genocídio de 1994 e pediu que 13 políticos e 20 militares franceses sejam levados a julgamento, em um comunicado do ministério da Justiça, que resume as conclusões de uma comissão de investigação.
O ministro da Justiça ruandês, Tharcisse Karugarama, apresentou à imprensa nesta terça-feira as conclusões do relatório de 500 páginas da comissão de investigação ruandesa sobre o papel da França no genocídio, o qual afirma que Paris estava "a par dos preparativos e participou nas principais iniciativas e em sua execução".
"Vários militares franceses cometeram eles mesmos assassinatos de tutsis e de hutus acusados de esconder tutsis. Os militares franceses também cometeram inúmeras violações com sobrevientes tutsis", afirma o documento. "Ante a gravidade dos fatos alegados, o governo ruandês ordenou às instâncias competentes a empreeder as ações necessárias para levar os responsáveis políticos e militares franceses incriminados a reponder por seus atos ante a justiça", prossegue o texto.
O genocídio ruandês deixou, segundo a ONU, cerca de 800 mil mortos, entre a minoria tutsi e os hutus moderados. O atual governo ruandês, dirigido pela minoria tutsi, acusou em várias ocasiões a França de ter treinado e armado os autores do genocídio, o que Paris sempre desmentiu.
Kigali rompeu no final de 2006 as relações diplomáticas com Paris depois que o juiz francês Jean-Louis Bruguière reclamou que o presidente Paul Kagame fosse julgado por sua suposta participação no atentado contra o avião do ex-presidente ruandês Juvenal Habyarimana em 6 de abril de 1994, fato que foi detonador do genocídio.