postado em 06/08/2008 13:09
GENEBRA - A Cruz Vermelha Internacional condenou nesta quarta-feira (06/08) o aparente "uso abusivo e deliberado" de seu símbolo por parte do exército colombiano durante a operação de resgate de um grupo de 15 reféns das Farc, entre eles Ingrid Betancourt, no mês passado. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) criticou o fato de que um dos membros da equipe militar usou o emblema no início do resgate de 2 de julho, segundo imagens divulgadas pela televisão.
"Se forem verdadeiras, essas imagens demonstrariam claramente o uso inapropriado do embela, o que deploramos. Estamos em contato com as autoridades colombianas para pedir explicações sobre o que aconteceu realmente", afirmou o vice-diretor de operações Dominik Stillhart. Segundo ele, o uso de símbolos da CIRV é regido pelas Convenções de Genebra e protocolos adicionais.
A divulgação de um vídeo do resgate militar contradiz a versão oficial sobre a utilização do logotipo do Comitê Internacional da Cruz Vermelha durante a operação. Segundo o vídeo, que dura uma hora e foi divulgado na noite de segunda-feira pelo canal de TV privado RCN, a utilização do símbolo do CICV estava prevista desde o início da operação e não ocorreu durante o momento de tensão, como havia afirmado o presidente colombiano, Alvaro Uribe.
"É grave que toda a verdade não tenha aparecido após as primeiras investigações", declarou o governo colombiano após a divulgação das imagens. "Também é grave que membros das Forças Armadas filtrem notícias de forma clandestina e sem coordenação com seus superiores", acrescentou. O ministro colombiano da Defesa, Juan Manuel Santos, garantiu que o governo não autorizou a utilização pelo Exército do logotipo do CICV.
O presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, havia admitido que um oficial do Exército usou um colete com o símbolo da Cruz Vermelha na operação de resgate do dia 2 de julho passado. "O nome do oficial será preservado para não arriscar sua vida, além de querermos protegê-lo em sua carreira", destacou Uribe durante ato público.
Segundo o presidente, o uso dos símbolos da Cruz Vermelha foi feito para atenuar o nervosismo gerado pela operação de resgate, mas destacou que "em nenhum momento se pretendeu suplantar a ação dos organismos humanitários". "O oficial tirou um pedaço de pano com os símbolos do CICV que estava em seu bolso e o colocou sobre seu colete. Lamentamos que isso tenha ocorrido", acrescentou.
Uribe informou ainda que o ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, e os altos comandos militares se reuniram com o representante do Comitê Internacional da Cruz Vermelha para dar explicações e apresentar desculpas. No entanto, o presidente explicou que os militares que realizaram a operação estavam desarmados e que o resgate foi feito sem derramamento de sangue.
Os dois guerrilheiros detidos na operação, Gerardo Aguilar (ou 'César') e Alexander Farfán ('Gafas'), relataram aos delegados do CICV que os militares colombianos os haviam enganado usando o emblema do organismo humanitário e da cadeia de televisão Telesur, afirmou seu advogado, Rodolfo Ríos. "Eles falaram isso em várias oportunidades, assinalando que o Exército simulou a presença da Cruz Vermelha e que 3 ou 4 das pessoas que participaram na operação usavam símbolos do CICV".
"O emblema da Cruz Vermelha tem que ser respeitado em todas as circunstâncias e não pode ser usado de maneira abusiva", indicou o CICV em comunicado emitido em Bogotá no dia 16 de julho. A entidade destacou a importância do respeito a seu emblema "como um signo protetor que permite a seus representantes aceder as zonas mais afetadas pelo conflito armado e levar a cabo suas atividades de proteção e de assistência às vítimas". "O CICV, organização humanitária neutra e imparcial, deve ter a confiança de todas as partes em conflito para levar a termo sua ação humanitária", precisou o texto divulgado em Bogotá.