A companhia aérea estatal chinesa Air China teve de suspender vários vôos após receber ontem uma mensagem eletrônica com uma ameaça de bomba. Um de seus aviões, que seguia de Nagóia, no Japão, para Chongqing, na China, com 71 pessoas a bordo, retornou ao aeroporto horas antes da abertura dos Jogos Olímpicos, em Pequim. Apesar do susto, não houve feridos e nenhum explosivo foi encontrado no Boeing 737.
;Pedimos à Air China que suspenda imediatamente todos seus vôos, senão faremos explodir seus aparelhos. Vamos jogar aviões sobre o local dos Jogos Olímpicos;, dizia o e-mail, escrito em japonês e recebido pela empresa por volta das 13h (hora local). O vôo CA 406, que seguia para Chongqing, no centro do país, via Xangai, foi o que mais preocupou a companhia, pois teria sido mencionado na mensagem. Segundo a imprensa japonesa, o texto dizia que a aeronave deveria ser desviada para Pequim.
O avião voltou ao Japão e passou por uma inspeção. ;O vôo 406 precisou retornar depois da ameaça de bomba. Ninguém se machucou. Assim que ficar confirmado que é seguro, o avião seguirá viagem;, disse Akiko Noguchi, funcionária do aeroporto de Chongqing. A China montou um megaesquema de segurança para as Olimpíadas que inclui 100 mil agentes. Contra ataques aéreos, locais de competições, como o Estádio Olímpico, são protegidos por baterias de mísseis terra-ar Hongqi-7. Organizações islâmicas do oeste do país, grupos separatistas tibetanos e seguidores de seitas como a Falun Gong ; adversários do governo ; são acompanhados com atenção pelos serviços de inteligência.
Protesto e repressão
Enquanto o mundo voltava os olhos para a abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, manifestantes pró-Tibete faziam barulho em frente a embaixadas chinesas em diversos países. Em Nova Délhi, 150 monges tibetanos tentaram invadir o prédio da representação chinesa na Índia. No Nepal, a polícia prendeu 800 exilados que protestavam perto da embaixada da China em Katmandu. Integrantes de movimentos pela libertação do Tibete protestaram em Hong Kong, no Reino Unido, na Turquia, na França e na Itália. Próximo ao Ninho do Pássaro, estádio-símbolo das Olimpíadas, três ativistas norte-americanos foram detidos.
O trio de manifestantes não se intimidou após a prisão de cinco estrangeiros membros da Students for Tibet (Estudantes para o Tibete), que também protestavam em frente ao Estádio Nacional na quarta-feira. Pouco antes do início da cerimônia de abertura, os norte-americanos exibiram a bandeira tibetana por 30 segundos antes de serem censurados por forças de segurança locais.
Os exilados tibetanos também fizeram muita pressão em frente às embaixadas chinesas no Nepal e na Índia. ;Queremos mostrar às milhões de pessoas que vão assistir à cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos e às centenas de atletas que no Tibete não há direitos humanos;, afirmou Tashi Tsering, estudante em Katmandu. Estima-se que 800 pessoas tenham sido detidas, mas o número pode passar de mil.
Em Nova Délhi, monges tentaram tirar as barreiras de aço e os alambrados que ficam em volta da embaixada chinesa. ;Colocamos os monges em prisão provisória;, afirmou um policial. Cerca de 300 pessoas, em sua maioria refugiados uigures de Xinjiang (noroeste da China), se concentraram diante da representação da China no centro de Ancara, na Turquia. Uma delas teria tentado atear fogo ao próprio corpo.
Em Hong Kong, um britânico foi preso após ter escalado uma ponte e colocado cartazes com os dizeres ;O povo da China quer liberdade; e ;Queremos direitos humanos e democracia;. Perto da instalação olímpica de Hong Kong, onde serão realizadas as provas de hipismo, cerca de 40 ativistas pró-democracia protestaram no momento em que alguns atletas participavam de uma recepção. ;Queremos protestar contra o fracasso do governo chinês em seu compromisso feito há sete anos, quando o país foi eleito sede dos Jogos Olímpicos. Queremos que a China honre o espírito dos Jogos, pondo em liberdade todos os dissidentes políticos, os defensores dos direitos humanos e os grupos religiosos que deteve;, disse Emily Lau, membro do Conselho Legislativo de Hong Kong e fundadora do grupo The Frontier.
Rádio pirata
Na Europa, as embaixadas chinesas em Londres, Paris e Roma atraíram manifestantes. Cerca de 300 londrinos agitaram bandeiras e cartazes com a frase ;Olimpíadas de Pequim, Olimpíadas do Genocídio; e pediram o ;fim do massacre;. Em Roma, as autoridades italianas impediram um homem de pendurar uma bandeira tibetana num edifício do centro da cidade.
Um dos protestos que mais causou repercussões foi o protagonizado pela organização Repórteres Sem Fronteiras, que conseguiu controlar uma das freqüências de rádio da China por 20 minutos. Exatamente 12 horas antes da abertura dos Jogos, o grupo iniciou a transmissão de um programa em chinês, inglês e francês. ;A China é o país da censura e este programa é a nossa forma de ridicularizar as autoridades chinesas que ainda mantêm centenas de jornalistas e internautas na prisão;, disse um dos repórteres no início da transmissão. ;É a nossa forma de dizer-lhes: apesar de tudo o que fazem, aqui estão as vozes das pessoas que vocês querem calar;, acrescentou.