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ENTREVISTA: Joy Crisp fala sobre o super robô da próxima missão a Marte

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postado em 10/08/2008 08:11
Em 2010, a Nasa (agência espacial dos Estados Unidos) enviará a Marte a mais ousada e cara missão da história: a Mars Science Laboratory (MSL) (Laboratório de Ciências de Marte, pela tradução literal). Trata-se de um robô gigantesco, de 850kg, dotado de aparelhos ultramodernos que varrerão o solo do planeta vermelho em busca de compostos orgânicos que seriam a assinatura da vida. Em entrevista exclusiva ao Correio Braziliense, a norte-americana Joy Crisp, cientista do Laboratório de Jatopropulsão da Nasa e chefe da missão MSL, falou sobre os objetivos da nova etapa na exploração do astro. Se formos capazes de encontrar vida em Marte, que tipo de seres a senhora imagina habitariam o planeta vermelho? A missão Mars Science Laboratory (MSL) não visa a detectar vida, e não tem instrumentos para isso. O robô MSL será usado para estudar o passado e o presente geológicos de Marte e determinar até que ponto esse ambiente foi ou é propício à vida. Se encontramos vida em Marte (com futuras missões, após a MSL), será provavelmente micróbios fossilizados. Marte teve água em estado líquido fluindo na superfície e provavelmente era muito mais hospitaleira à vida do que hoje. É muito menos provável encontrarmos vida em Marte hoje por causa de suas condições inóspitas. Mas se a detectarmos, eu esperaria algo como micróbios, talvez muitos metros sob a superfície, protegidos da radiação ultravioleta e talvez em um local onde exista água. Então, quais os objetivos da MSL? A principal meta da Mars Sciente Laboratory é explorar e avaliar de modo quantificativo uma região de Marte que seja um habitat em potencial para a vida. Vamos além das evidências de água com essa missão, buscaremos compostos contendo carbono, hidrogênio, nitrogênio, enxofre e fósforo. Que tipos de análises o robô vai realizar em Marte? Os equipamentos são os mais avançados da história da ciência espacial? Um instrumento do robô é chamado de Mars Descent Imager. Trata-se de uma câmera que tirará fotografias da superfície durante os últimos minutos antes do pouso, nos dando imagens coloridas de alta resolução que podem ser usadas no estudo da geologia local e quando planejarmos para onde devemos dirigir o aparelho. O robô MSL está carregado com nove instrumentos científicos, um braço robótico, perfurador, pá e escova (entre outras coisas). Os instrumentos do laboratório de análise -- CheMin e SAM -- são os mais avançados. O braço robótico e o conjunto pá/perfurador recolherá amostras de pós de rocha ou do solo e as depositará no Laboratório Analítico. O perfurador pode entrar 5cm na rocha. O Chemin (Química e Mineralogia) possui uma fonte de raio-X que é disparado em uma amostra de rocha e solo. Depois disso, um computador detecta os padrões de difração do raio-X, uma espécie de "impressão digital" dos minerais presentes e sua incidência. O Analisador de Amostras de Marte (SAM) vai assar uma amostra de rocha ou solo em seu forno, a aquecendo até mil graus Celsius. Os gases convertidos serão analisados pelo espectrômetro de massa SAM e pelo cromatógrafo de gás. Desses resultados, nossa equipe vai reconhecer se há traços de compostos orgânicos presentes na amostragem e de que tipo são, além de determinar a abundância de vários isótopos de carbono, hidrogênio e enxofre. Também buscaremos apurar a quantidade de vários tipos de gás liberados em função da temperatura. A SAM vai "farejar" a atmosfera marciana por meio de pequenos condutos e medir a concentração de metano e dióxido de carbono com o Espectrômetro Afinável a Laser. Dois instrumentos na seção final do braço robótico serão usados para realizar análises químicas detalhadas de rochas e do solo: o Espectrômetro de Partículas Alfa de Raio-X, que é uma versão melhorada do dispositivos dos robôs Opportunity e Spirit, e uma câmera de autofoco colorida (1600 x 1200 pixels) -- que nos permitirá enxergar detalhes menores que a espessura de um cabelo humano. No topo do mastro, dois metros sobre o chão, está um par de câmeras coloridas que serão usadas para estudar a geologia ao redor. Também no topo do mastro está o ChemCam, um instrumento que utiliza o laser para atingir rochas e solo a 9m de distância, deixando buracos de 1mm e convertendo as amostras em vapor. O vapor será examinado com espectrômetros visíveis do ChemCam, que estimará a abundância de substâncias químicas. Seremos capazes de adivinhar quais rochas são as mais interessantes a 9m de distância, então vamos dirigir o robô até lá, perfurar, cavar e inserir o braço robótico. Também vamos monitorar o ambiente uma estação meteorológica completa chamada REMS, capaz de medir os ventos, a temperatura do ar e da superfície, a umidade, a radiação ultravioleta e a pressão. Um instrumento de radiação chamado Detector de Avaliação de Radiação (RAD) vai determinar a quantidade e os tipos de raios cósmicos, partículas energéticas solares. Por sua vez, o DAN enviará pulsos de nêutrons em direção ao chão e então medirá a curva de intervalo de tempo do fluxo de nêutron que retornar aos detectores. O espectrômetro também medirá a abundância e a distribuição em profundidade do hidrogênio no solo e na rocha. O robô MSL é muito grande -- tem o tamanho de um carro pequeno e pesa cerca de 850kg. O Spirit e o Opportunity pesavam 170kg, cada. As dimensões de nosso novo robô são 2,8m de profundidade, 3m de comprimento e 2,2m de altura. Alguns dos instrumentos são fornecidos por agências estrangeiras: o REMS veio da Espanha, o DAN da Rússia, o APXS do Canadá. Vários aparelhos têm a colaboração de Alemanha e França. Quais suas expectativas em relação às conquistas da missão? Estamos ansiosos em colocar esse luxuoso robô científico em Marte. Com capacidade superior à de outras missões, esperamos aprender muito mais sobre os ambientes passados de Marte e como eles mudaram ao longo do tempo, e se algum desses ambientes foi favorável à preservação de compostos como aminoácidos, nucleobases e ácidos carboxílicos, e se esses ambientes poderiam abrigar vida. Ao ler as pistas que estão trancadas nas rochas e no solo de Marte, poderemos aprender sobre padrões ambientais de milhões de anos. Quem sabe o que encontraremos?

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