postado em 10/08/2008 19:51
Um oficial das forças de paz russas na província separatista da Ossétia do Sul, na Geórgia, disse que os combates "cessaram no momento" na capital provincial de Tskhinvali. "Não há mais trocas de disparos de artilharia. Mas nos arredores da cidade se ouve o barulho de canhões, procedente do sul", afirmou o oficial.
Horas antes, o Ministério das Relações Exteriores da Geórgia havia emitido comunicado manifestando "sua prontidão para iniciar imediatamente negociações com a Federação Russa para um cessar-fogo e para a cessação das hostilidades", mas o encarregado de negócios da embaixada russa em Washington, Alexander Darchiev, disse que as tropas georgianas "não estão se retirando, mas reagrupando, o que inclui tanques pesados e ataques de artilharia contra Tskhinvali".
Ao longo de todo o domingo foram emitidos informes de combates entre forças russas e georgianas, mas a maioria desses relatos se baseia em fontes de um dos lados do conflito e não tem confirmação independente. No começo da noite (horário de Brasília), enquanto o governo russo falava em diminuição da intensidade do conflito, o governo da Geórgia dizia que a cidade de Gori estava sendo atingida por disparos da artilharia russa.
Durante o dia, o governo da Geórgia disse que suas tropas impediram que uma coluna de tanques russos invadisse território georgiano a partir da Ossétia do Sul e que aviões russos haviam bombardeado o aeroporto de Tbilisi, a capital do país, menos de uma hora antes da chegada do ministro das Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner, que viajou para lá na tentativa de mediar uma solução pacífica. A Rússia, por sua vez, disse que sua Marinha afundou um torpedeiro georgiano que tentava atacar seus navios no Mar Negro.
Separatismo
O conflito começou na manhã de sexta-feira, quando o Exército da Geórgia, armado e treinado pelos EUA, atacou Tskhinvali com artilharia, foguetes e aviões. A operação provocou uma forte reação militar por parte da Rússia, que apóia a separação da Ossétia do Sul. A província, que havia declarado sua independência em 1992, tem população predominantemente russa.
Segundo uma porta-voz do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, os três dias de combates transformaram cerca de 40 mil pessoas em refugiados, 30 mil ossetianos e 10 mil georgianos. "Os georgianos queimaram todas as nossas casas. Os georgianos dizem que esta terra é deles. Onde é a nossa terra, então? Nós não sabemos", disse uma refugiada idosa. O Ministério das relações Exteriores da Rússia disse que pelo menos 2 mil pessoas morreram nos primeiros três dias do conflito, em sua maioria civis ossetianos portadores de passaportes russos.
Em Nova York, o Conselho de Segurança da ONU teve quatro reuniões de emergência entre sexta e domingo para discutir o conflito Geórgia/Rússia, sem chegar a nenhum acordo. Os embaixadores dos EUA e da Rússia junto à ONU trocaram palavras ásperas, com o representante norte-americano, Zalmay Khalilzad, dizendo que a Rússia quer depor o presidente georgiano, Mikhail Saakashvili, e seu colega russo, Vitaly Churkin, respondendo que "mudança de regime é uma invenção dos EUA", numa referência implícita aos casos do Iraque e do Afeganistão.
Também no domingo, a Força Aérea dos EUA começou a repatriar 2 mil soldados da Geórgia que integravam as forças de ocupação do Iraque, de modo que eles possam reforçar o Exército de seu país.