postado em 11/08/2008 09:58
MOSCOU - Ao invadir militarmente a Ossétia do Sul, região rebelde da Geórgia, a Rússia traçou uma "linha vermelha" para mostrar que não admitirá que seus interesses sejam contrariados impunemente, afirmaram alguns especialistas. O Estado russo mostra há alguns anos que não permitirá à Geórgia retomar o controle da Ossétia do Sul e da Abkházia, duas regiões separatistas da Geórgia, mas até agora não tinha sido firme na maneira de responder à tal tentativa. "A guerra era inevitável", disse Pavel Felgenhauer, analista militar independente em Moscou. "As pessoas vinham falando nisso há algum tempo na Geórgia", acrescentou. "O presidente georgiano, Mikhail Saakachvili, às vezes ultrapassa os limites, e deu sinal verde a esta operação", destacou Felgenhauer.
As duas províncias georgianas de Ossétia do Sul e Abkházia, que não têm a mesma cultura e a mesma língua que os georgianos, declararam sua independência de fato de Tbilisi no início dos anos 1990, após a queda da URSS. Aos olhos de Felgenhauer, a ofensiva georgiana na Ossétia do Sul deu à Rússia um pretexto para ilustrar sua retórica política por uma ação concreta. "A Rússia pode se contentar de mobilizar apenas uma pequena parte de seu enorme potencial militar neste pequeno setor", disse, referindo-se à região da Ossétia do Sul, onde os combates entre a Geórgia e a Rússia estão literalmente pegando fogo desde à madrugada de quinta para sexta-feira. "Há apenas uma estrada de alguns metros de cumprimento entre a Rússia e a Ossétia do Sul. É uma questão de logística", afirmou.
Por sua vez, Serguei Markov, um analista com pontos de vista próximos aos do Kremilin, comentou que os esforços da Geórgia para tomar o controle da Ossétia do Sul com meios militares não deixaram para Moscou outra escolha senão responder da mesma maneira. "Saakachvili colocou a Rússia numa situação muito difícil", comentou Markov, reforçando assim o argumento do Kremlin segundo o qual a intervenção militar era necessária para defender os cidadãos russos na província rebelde.
O analista observou que os habitantes da Ossétia do Sul e da Abkházia, duas regiões ligadas administrativamente à Geórgia, obtiveram passaporte russos graças à lei votada após a queda da União Soviética em 1991, em virtude da qual os habitantes das antigas repúblicas soviéticas podem ter a cidadania russa. "Não havia projeto de enviar tropas à Geórgia sem razão. Mas nestas circunstâncias, as autoridades russas não tinham outra escolha. É com certeza uma 'linha vermelha' para a Rússia", disse Markov.
No entanto, a posição firme de Moscou, que deixou claro que ela está pronta a combater a reintegração forçada da Ossétia do Sul e da Abkházia à Geórgia, terá um preço nas suas relações com o Ocidente. Apesar de a Geórgia ter começado a ofensiva na Ossétia do Sul antes de dobrar frente aos ataques russos, é ela que aparece como a vítima do conflito, dizem os analistas. "Teria sido insensato da parte de Saakachvili contar com um apoio militar direto do Ocidente", afirmou um analista independente especializado em Defesa, Alexandre Golts. "Mas o que o presidente georgiano conseguiu foi que o mundo inteiro vê agora a Rússia como um agressor militar", comentou. Confirmando esta tese, a Casa Branca julgou as ações da Rússia na Ossétia do Sul uma "escalada desproporcional e perigosa" que, em caso de perseguição, teria um impacto importante sobre as relações americano-russas a longo prazo.