postado em 13/08/2008 11:52
TBILISI - A Rússia afirmou nesta quarta-feira (13/08) que suas tropas só se retirarão da Geórgia quando as forças georgianas voltarem a seus quartéis, enquanto um frágil cessar-fogo vigora em meio a uma verdadeira guerra de acusações e desmentidos. "Quando as tropas georgianas voltarem a seus quartéis, as forças russas voltarão ao território da Federação Russa. Nossas forças de manutenção da paz permanecerão na Ossétia do Sul", declarou o chanceler Serguei Lavrov.
Segundo o plano de paz apresentado pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy, ao presidente russo, Dmitri Medvedev, e ao presidente georgiano, Mikhail Saakashvili, que ambos aceitaram, as forças militares georgianas devem retornar "a seu lugar habitual de aquartelamento" e as forças russas devem retornar às "linhas anteriores ao início das hostilidades". A Rússia mantém, desde o início dos anos 90, forças de manutenção de paz na região georgiana separatista pró-russa da Ossétia do Sul, o centro do conflito entre Moscou e Tbilisi.
Mas entre a situação no terreno e as afirmações dos dirigentes de ambos os países há diferenças e contradições. As forças russas avançam para a capital da Geórgia, Tbilisi, e tentam sitiá-la, denunciou o presidente georgiano ao canal CNN. "Vamos proteger nossa capital até a última gota de nosso sangue", enfatizou. "Jamais nos renderemos aos russos". Antes, Saakashvili afirmou que tanques russos abriram fogo contra habitantes da cidade de Gori.
"Tanques russos entraram em Gori. Destruíram prédios e as tropas russas estão realizando saques. Também mataram pessoas", acusou o presidente em coletiva de imprensa por telefone. "Saquearam, roubaram comida, destruíram instalações sanitárias, pegaram computadores e coisas de valor", acrescentou. Ele também acusou os Estados Unidos de declarações 'muito brandas' em relação à atual crise.
Segundo informações da imprensa no local, uma coluna de tanques, blindados e caminhões militares russos deixou nesta quarta-feira a cidade georgiana de Gori com direção a Tbilisi, capital da Geórgia, mas outros veículos blindados russos permaneciam patrulhando a periferia dessa cidade Gori, de onde a população continua fugindo em carros e caminhões.
O Estado-Maior do exército russo negou, no entanto, que suas forças se dirijam para Tbilisi. "As unidades russas e o material militar não estão indo para Tbilisi. Não temos tal missão", declarou o general Anatoli Novogitsyn, chefe do Estado-Maior adjunto, citado pela agência Interfax. Mas as forças russas de manutenção da paz admitiram ter entrado na cidade georgiana de Gori nesta quarta-feira, apesar de assegurar que seu objetivo era esvaziar um arsenal georgiano.
Ao mesmo tempo, a vice-ministra do Interior georgiana, Eka Zguladze, desmentiu que um comboio de tanques russos que abandonou a cidade georgiana de Gori se dirigisse à capital Tbilisi, contradizendo as declarações do presidente Saakashvili. Segundo cifras oficiais, 74 militares russos morreram, 171 ficaram feridos e 19 desapareceram no conflito entre Rússia e Geórgia.
No plano político, a Otan anunciou que os Estados Unidos solicitam a realização de uma reunião extraordinária dos ministros das Relações Exteriores da Otan sobre a Geórgia na próxima semana, em Bruxelas. O ministro francês das Relações Exteriores, Bernard Kouchner, por sua vez, afirmou, depois de se reunir com seus colegas europeus, que a União Européia examinará suas relações com a Rússia no encontro que manterão em setembro.
Disse ainda que a UE tem intenção de vigiar a aplicação do plano de paz na Geórgia enviando efetivos à região. Na véspera, os governos de Rússia e Geórgia aceitaram um plano promovido pela França, com o objetivo de restaurar a paz na região, conforme anunciou em Tbilisi o presidente francês, Nicolas Sarkozy. "Esse texto servirá de base para a preparação de um documento jurídico, em forma de resolução, que será apresentado ao Conselho de Segurança da ONU", afirmou.
Na conferência, Saakashvili frisou que seu governo não permitirá que a integridade territorial da Geórgia seja posta em dúvida por nenhum acordo de paz. "Nossa integridade territorial e o fato de a Ossétia do Sul e da Abkházia pertencerem à Geórgia nunca poderão ser questionados", afirmou Saakashvili, ao lado de Sarkozy. O presidente georgiano insistiu em que a perspectiva de discussões posteriores sobre o estatuto de Abkházia e Ossétia do Sul, prevista no documento de seis pontos de Sarkozy, foi anulada. O sexto ponto do plano previa a abertura de discussões internacionais sobre o status futuro e as modalidades de segurança durável, na Abkházia e na Ossétia do Sul.