postado em 15/08/2008 18:56
Moscou e Varsóvia - O acordo fechado pela Polônia para receber um escudo antimísseis dos Estados Unidos "agrava ainda mais" as relações entre Moscou e Washington e expõe Varsóvia à possibilidade de um ataque, inclusive nuclear, advertiu nesta sexta-feira (15/08) o general Anatoly Nogovitsyn, subcomandante do Estado-Maior das Forças Armadas da Rússia.Citado pela agência russa de notícias Interfax, o general observou durante entrevista coletiva concedida em Moscou que a Polônia "está se expondo a um ataque, isso é fato".
Trata-se do mais duro comentário de uma autoridade russa contra o plano americano de desenvolver elementos de um sistema de defesa de mísseis em antigas nações do bloco soviético. Na quinta-feira, os EUA e a Polônia assinaram o acordo para Washington instalar um sistema antimísseis na Polônia.
Com relação aos EUA, Nogovitsyn declarou: "É uma pena que em um momento no qual estamos lidando com uma situação das mais complicadas (a guerra na Geórgia), os Estados Unidos estejam agravando ainda mais as relações com a Rússia", referindo-se ao acordo de defesa com a Polônia.
O governo americano alega que o objetivo do sistema é defender aliados de ataques de nações párias, mas Moscou denuncia que o objetivo real seria enfraquecer a Rússia. Nogovitsyn acrescentou, em referência ao acordo, que a doutrina militar russa sanciona o uso de armas nucleares "contra aliados de países que têm armas nucleares, se eles forem ajudados de alguma maneira."
O presidente russo Dimitri Medvedev disse que o acordo "claramente demonstra o que já havíamos dito - o sistema tem a Federação Russa como seu alvo." A assinatura do acordo ocorre em um momento no qual funcionários americanos têm criticado a Rússia pela intervenção militar na Geórgia depois de Tbilisi ter deflagrado uma ofensiva contra a Ossétia do Sul, uma província separatista georgiana, com maioria da população russa.
A chanceler alemã Angela Merkel, Medvedev adotou um tom mais leve que Nogovitsyn, ao dizer que a assinatura do acordo entre EUA e Polônia "é algo triste para quem vive nesse continente densamente povoado (a Europa), mas não é dramático."
"A Polônia é um país independente e é um aliado dos Estados Unidos. E também é um país democrático e os Estados unidos estão comprometidos com a sua segurança," disse a secretária americana de Estado, Condoleezza Rice, em Tbilisi, ao comentar o pacto.
Inspeção permitida - O chanceler da Polônia, Radek Sikorski, disse nesta sexta-feira que a Polônia permitirá que militares russos inspecionem a futura base de mísseis, para dar a Moscou "provas tangíveis" de que o sistema não é dirigido contra a Federação Russa, mas contra outras ameaças potenciais.
O acordo do sistema antimísseis entre os EUA e a Polônia, que levou 18 meses para ser aprovado, ainda precisará ser ratificado pelo Parlamento da Polônia e assinado por Rice, provavelmente na próxima semana, quando a secretária de Estado planeja visitar Varsóvia. Os EUA também projetam construir uma estação de radares, como parte do sistema, na República Checa.
A chanceler alemã Merkel disse que a Rússia deveria ser incluída no sistema de defesa antimísseis. "Do meu ponto de vista, esse acordo não é dirigido contra a Rússia. Nós continuaremos a insistir que as conversações continuem sobre como podemos convencer a Rússia sobre isso e incluí-la no sistema," ela disse