postado em 18/08/2008 09:35
LAHORE - Inúmeros paquistaneses saíram nesta segunda-feira (18/08) às ruas para manifestar sua alegria imediatamente após o anúncio de demissão do presidente, Pervez Musharraf, resultado de um ano e meio de protestos violentos contra o chefe de Estado. "Decidir pedir demissão". Assim que o ex-general, no poder desde seu golpe de Estado sem violência em 12 de outubro de 1999, pronunciou esta frase, os paquistaneses começaram a gritar de alegria em todas as grandes cidades do país, em manifestações organizadas de última hora para escutar, na rua, seu discurso à nação.
No domingo, o governo que reuniu, desde sua vitória nas eleições legislativas de fevereiro, os antigos partidos da oposição, anunciou que iniciaria esta semana um processo de destituição no Parlamento. Mas nem precisou dar inícios aos trabalhos. Em Lahore, a grande cidade do leste e palco principal das manifestações contra Musharraf desde março de 2007, os tambores tradicionais ressoavam ainda várias horas após o discurso, com os manifestantes cantando "Abaixo Musharraf".
"A nação está muito feliz", gritava Saba Gul, estudante universitário de Lahore, dançando pelas ruelas da cidade velha. Todos à volta dele se abraçavam calorosamente. Eles trocavam guloseimas, um gesto tradicional que acompanha todas as celebrações no Paquistão. Em Peshawar, a grande cidade do noroeste, perto das zonas tribais onde o exército lançou recentemente uma ofensiva contra os talibãs e os combatentes da Al-Qaeda, os manifestantes atiraram com kalachnikov para o alto, pontuando os gritos hostis contra Musharraf.
Em Multan, cidade natal do primeiro-ministro Yusuf Raza Gilani, manifestantes beijavam o chão, agradecendo a Deus. "A nação finalmente se livrou dele", comemorou Abdul Qadir Gilani, o filho do chefe de governo, dirigindo-se à multidão de aproximadamente mil pessoas. Os telefones celulares não paravam de tocar para indicar a chegada de inúmeras mensagens de congratulações. "É um dia feliz para todos" e "Felicitações, Deus salva o Paquistão", enviavam uns aos outros os cidadãos paquistaneses.
Alguns nesta República Islâmica do Paquistão demonstravam, por outro lado, sua preocupação com a possibilidade do caos se instalar na única potência nuclear do mundo muçulmano no front da guerra americana contra o terrorismo. "Vamos ver o que vai acontecer agora no país, antes de comemorar", disse Iftikhar Ahmed, oculista de Peshawar. "A análise de Musharraf (em seu discurso) é exata: o país enfrenta várias crises e os líderes devem agora encontrar uma solução para elas", acrescentou o comerciante, lembrando principalmente das dificuldades para os partidos da nova coalizão no poder de governar junto desde março.
"A coalizão nos dizia que Musharraf era o principal obstáculo, vamos ver agora o que ela vai fazer", acrescentou Imtiaz Ahmed, um vendedor de frutas. O Paquistão está à beira de uma crise econômica entre as mais severas de sua história e a uma onde sem precedentes de atentados islâmicos que já deixou 1.200 mortos em pouco mais de um ano.