postado em 19/08/2008 13:15
BRUXELAS - Os países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) pediram nesta terça-feira (19/08) à Rússia que cumpra a promessa de retirar suas tropas da Geórgia, mas sem adotar, no entanto, medida mais forte para obrigá-la. A Otan não recebeu nenhum sinal de retirada russa da Geórgia por enquanto, contrariamente ao compromisso assumido por Dmitri Medvedev de respeitar o plano de paz proposto pela presidência francesa da União Européia, declarou o secretário-geral da organização, Jaap de Hoop Scheffer, após uma reunião extraordinária dos ministros dos Assuntos Exteriores dos 26 países da Otan em Bruxelas.
"De que vale uma promessa feita no papel após contatos com dirigentes da Aliança se esta promessa não for cumprida", questionou o general. "É hora de o presidente russo cumprir com sua palavra e retirar as forças russas da Geórgia, para voltar à situação dos dias 6 e 7 de agosto", afirmou por sua vez a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice.
Em resposta às declarações do general da Otan, a Rússia cancelou sua participação nas manobras militares junos com a Otan no Mar Báltico e, conseqüentemente, não poderá receber a visita de uma fragata americana, anunciou a marinha russa nesta terça-feira. Segundo o porta-voz russo Igor Dygalo, os navios da frota do Báltico não participarão no exercício naval internacional Open Spirit-2008 junto com a Otan e, por isso, a marinha russa não considera possível acolher o navio americano "USS Ford", em Petropavlovsk-Kamchatski, no Extremo Oriente russo, de 5 a 9 de setembro, como previsto.
O ministro francês das Relações Exteriores, Bernard Kouchner, também se disse "muito decepcionado" com a atitude da Rússia. "Esperamos todos que o presidente Medvedev cumpra sua palavra", insistiu, acrescentando que está começando a duvidar disso. Em conseqüência, os 26 países advertiram em uma declaração comum que a Otan não pode "continuar agindo como se suas relações com Moscou de nada valessem".
Eles pediram à Rússia que demonstre, "tanto em palavras como em atos, seu compromisso em favor dos princípios sobre os quais fundamos nossa relação". "Agora é hora de a Rússia agir, e não da Otan. A Rússia deve retornar às posições ocupadas em 6 de agosto", antes da ofensiva georgiana para retomar o controle de seu território separatista na Ossétia do Sul, declarou Hoop Scheffer. "O futuro de nossas relações com a Rússia dependerá de ações concretas a serem adotadas pelo presidente Dmitri Medvedev, o que não é o caso por enquanto", advertiu.
Entretanto, a Otan, que reúne países de uma linha dura em relação a Moscou (EUA, Polônia, países bálticos) e outros (França, Alemanha, Itália) favoráveis a uma parceria com a Rússia, adotou poucas medidas práticas para demonstrar seu descontentamento com Moscou. A principal parece ser a suspensão das reuniões do Conselho Otan-Rússia. "Nas circunstâncias atuais, não podemos organizar uma reunião Otan-Rússia", indicou Hoop Scheffer.
Mas o Conselho Otan-Rússia, criado em 2002, não está cancelado. "Eles devem voltar às posições de 6 de agosto e, em seguida, estaremos abertos a tudo, não fechamos a porta às discussões com a Rússia", destacou o secretário-geral. Kouchner falou novamente da possibilidade de a presidência francesa vir a convocar uma cúpula européia extraordinária sobre a Geórgia, nos próximos dias, mas se manteve evasivo.
"Os EUA não querem isolar a Rússia", explicou por sua vez Condolezza Rice após a reunião. Para provar seu apoio à Geórgia, os 26 país anunciaram a criação de uma comissão Otan-Geórgia, encarregada de supervisionar todas as atividades de cooperação entre o país e a Aliança. Eles devem trabalhar pela integração desta ex-república soviética à Otan, como foi prometido a Tbilisi em abril passado.
Para Rice, a Otan mostrou claramente nesta terça-feira que não permitirá que seja traçada uma nova linha na Europa, "entre os que tiveram a chance de fazer parte das estruturas transatlânticas e os que ainda querem fazer parte delas". Mas nenhuma decisão foi tomada para acelerar o processo de adesão da Geórgia à Otan.