postado em 19/08/2008 13:52
NOVA YORK - As Nações Unidas lembram nesta terça-feira (19/08) o quinto aniversário do atentado com carro-bomba contra seu quartel-geral em Bagdá, que causou 22 mortos, entre eles seu representante especial, o brasileiro Sergio Vieira de Mello. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, interromperá as férias para assistir à cerimônia de homenagem às vítimas do dia 19 de agosto de 2003.
Durante a solenidade, será observado um minuto de silêncio sendo depositada uma coroa de flores junto a uma placa com dizeres relacionados ao episódio, no salão da assembléia geral, em Nova York. Será também interpretada uma peça de música clássica do compositor americano Steve Heitzeg intitulada "Song without borders" ('canção sem fronteiras', numa tradução literal).
Desde o atentado, a ONU mantém missão com efetivos reduzidos no Iraque. Sergio Vieira de Mello foi o primeiro brasileiro a chegar a um posto de alto escalão da ONU, tendo o nome cotado, na época, para suceder o então secretário-geral, Kofi Annan. "Ele foi a melhor coisa que aconteceu à ONU", afirmou a historiadora irlandesa Samantha Power, que lançou em São Paulo, a biografia "O Homem Que Queria Salvar o Mundo" ("Chasing the Flame", título original em inglês). "Se Sergio não pôde ser resgatado dos escombros, suas lições deveriam ser resgatadas e contadas", disse.
Formado em Filosofia pela Universidade de Sorbonne, na França, Vieira de Mello começou a trabalhar na agência da ONU para os refugiados (Acnur) aos 21 anos. Tornou-se diplomata de carreira, conciliando sua trajetória nas Nações Unidas com o título Doctorat d'État ès Lettres et Sciences Humaines. Durante 34 anos de carreira na ONU, esteve presente nos principais conflitos mundiais das últimas décadas, em Bangladesh, no Líbano, na Bósnia, em Ruanda, Kosovo, Timor Leste e Iraque.
No "terreno", Vieira de Mello ganhou fama de negociador pragmático e de líder generoso. Power conta no livro que Mello "dizia que não se pode ajudar as pessoas de longe". "Ele fez questão de que os escritórios da ONU em Bagdá fossem abertos aos civis iraquianos (ao contrário da zona verde iraquiana onde as instalações dos EUA guardadas por cercas de arame farpado e soldados), para que eles soubessem que a ONU estava ali para ajudá-los."
"Na época, Sergio não recebeu dos EUA as informações adequadas sobre a extensão das ações dos grupos terroristas no país e, por isso, não pôde calcular o perigo da situação", completou a argentina Carolina Larriera, companheira de Mello na época do atentado. Carolina foi uma das últimas pessoas a falar com Sérgio vivo, logo depois da explosão de um carro-bomba no escritório da ONU em Bagdá. Mesmo soterrado, ele chegou a dizer a ela que estava bem e pediu que fosse buscar ajuda. Carolina Larriera foi impedida de retornar ao local, e Mello acabou morrendo na espera.